Se você cresceu jogando videogame nos anos 1990, certamente tem 1998 gravado na memória. Em um dos anos mais proeminentes e importantes da indústria gamer, experimentamos alguns dos títulos mais marcantes da história nos consoles e PCs, muitos deles lembrados até hoje não só por seus aspectos técnicos, personagens e narrativas, mas pelo impacto cultural que causaram.
Enquanto o PlayStation se consolidava como líder absoluto de mercado, vendendo impressionantes 22,5 milhões de unidades no mundo todo (mais de 14,5 milhões à frente do Nintendo 64), a indústria vivia um momento de ebulição criativa. Enquanto isso, a Sega anunciava o fim da linha para o Saturn e, no Japão, abriu espaço para os primeiros passos do Dreamcast, o primeiro videogame 128-bit do mundo e pioneiro da sexta geração. Nos EUA, a recém-fundada Rockstar Games começava a traçar seu caminho rumo ao topo apenas um ano depois da estreia do primeiro Grand Theft Auto.
No Brasil, o cenário era de transformação. A TecToy enfrentava dificuldades financeiras e entrava em concordata após faturar apenas um terço dos R$ 30 milhões previstos para 1997, reflexo da queda de interesse pelos consoles da Sega. Para os jogadores, a realidade refletia uma mistura de entusiasmo e limitações econômicas.
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Uma nova versão do PlayStation com controle DualShock chegava às lojas por R$ 299 (equivalente a R$ 1.496 em valores atuais), enquanto o Nintendo 64 era vendido a R$ 369 (R$ 1.847 corrigidos). O Super Nintendo ainda resistia bravamente, agora com seu design Baby e um preço atraente: R$ 249 (R$ 1.246). Paralelamente, em um mundo pré-internet, o mercado de usados seguia florescendo nas páginas de classificados de revistas como SuperGamePower e Ação Games, oferecendo alternativas mais acessíveis para quem não conseguia acompanhar os preços dos lançamentos.
Nesse cenário, vamos revisitar os 15 jogos mais icônicos lançados em 1998, um ano épico para a indústria e os fãs de videogame, responsável por estabelecer novos padrões e revolucionar gêneros.
15. Thief: The Dark Project
Thief: The Dark Project foi uma mudança radical na abordagem dos jogos em primeira pessoa. Diferente dos “Doom clones” que dominavam o mercado, o jogo da Looking Glass Studios encorajava os jogadores a evitar confrontos diretos e utilizar as sombras a seu favor. Como Garrett, um ladrão habilidoso, o jogador precisava se mover sorrateiramente e prestar atenção aos diferentes tipos de superfície que produziam sons diferentes ao serem pisadas – um nível de imersão e mecânica de stealth absurdos para a época.

O sistema de som do jogo foi aclamado como um elemento que transcendia o aspecto técnico para se tornar parte fundamental da jogabilidade. O uso de áudio espacial e efeitos sonoros meticulosos permitia que o jogador identificasse onde estavam os guardas e as ameaças pelo som de seus passos ou conversas, criando uma tensão requintada e constante que beirava a realidade.
Embora alguns críticos tenham se queixado das seções sobrenaturais e da exploração de cavernas, Thief vendeu mais de 500 mil cópias e foi o jogo mais bem-sucedido da Looking Glass Studios. Além de criar o gênero de jogos “sneak-‘em-up”, ele também estabeleceu os fundamentos para séries como Splinter Cell e Assassin’s Creed.
14. Baldur’s Gate
Baldur’s Gate revitalizou o gênero de RPGs para PCs em um momento em que muitos o consideravam moribundo. Desenvolvido pela até então desconhecida BioWare, o jogo trouxe para os videogames a riqueza e complexidade de Dungeons & Dragons, utilizando as regras da 2ª Edição da Advanced Dungeons & Dragons. A implementação do motor Infinity Engine permitiu a criação de cenários pré-renderizados deslumbrantes, combinados com personagens e monstros em 2D isométrico, criando um visual distinto que envelheceu muito bem.

Mas o que realmente diferenciava Baldur’s Gate era sua narrativa elaborada e a profundidade dos personagens. Os companheiros que se juntavam à jornada tinham personalidades distintas, opiniões próprias e poderiam até mesmo abandonar o grupo se suas ações fossem contra seus princípios. Isso criou um nível de conexão emocional inexistente para aquela época.
Graças a isso, Baldur’s Gate conquistou crítica e público, vendendo mais de 2 milhões de cópias mundialmente e colocando a BioWare no hall de desenvolvedoras mais respeitadas da indústria. O legado do jogo se estendeu muito além de sua época, influenciando diretamente títulos como Dragon Age: Origins e Mass Effect. Seu impacto foi tão grande que a franquia ressurgiu com Baldur’s Gate 3, um dos jogos mais aclamados de 2023.
13. Sonic Adventure
Sonic Adventure marcou a entrada definitiva da mascote da SEGA no mundo dos jogos 3D, servindo como título de lançamento para o Dreamcast no Japão. Com ambientes vastos e detalhados, o jogo foi um salto evolutivo impressionante em relação a todos os outros da franquia.

A transição para o 3D trouxe novas dimensões à jogabilidade. Embora mantivesse a velocidade característica da série, Sonic Adventure introduziu uma estrutura narrativa mais ambiciosa com seis personagens jogáveis, cada um com habilidades únicas e histórias interconectadas. Além disso, o título incluiu o Chao Garden como minigame, oferecendo uma experiência de criação de mascotes virtuais que se conectava com o VMU do Dreamcast, permitindo que os jogadores cuidassem de suas criaturas mesmo longe do console. Em uma época em que os Tamagotchis eram uma febre mundial, essa mecânica foi uma das primeiras implementações bem-sucedidas de jogabilidade assíncrona e portátil em consoles.
Apesar de algumas críticas ao sistema de câmera e a presença de bugs, Sonic Adventure foi extremamente bem-recebido, considerado por muitos como um rival digno para Super Mario 64. Um dos maiores sucessos comerciais do Dreamcast, o jogo vendeu 2,5 milhões de cópias e estabeleceu o modelo para os futuros jogos 3D da franquia. Até hoje, Sonic Adventure é frequentemente citado como o auge da era moderna do ouriço azul, combinando com sucesso a velocidade característica da série com um senso de aventura expansivo.
12. Crash Bandicoot: Warped
Crash Bandicoot: Warped aperfeiçoou a fórmula estabelecida pelos jogos anteriores da série e empurrou o hardware do PlayStation ao limite, oferecendo um mundo vibrante que parecia mais um produto de Hollywood que um videogame. As animações fluidas, os efeitos de iluminação e a taxa de quadros consistente impressionaram críticos e jogadores.

O terceiro jogo da série ampliou bastante a variedade de gameplay ao trazer novos veículos e mecânicas, como corridas de jet ski, sequências de motocicleta e até segmentos onde Crash pilotava um avião biplano. A adição do sistema de cristais de poder desbloqueáveis que concediam novas habilidades (como o super pulo e a super rotação) trouxe uma sensação de recompensa e progressão contínua, incentivando os jogadores a revisitarem fases anteriores para descobrir segredos antes inacessíveis. A nova estrutura de hub, ambientada em uma máquina do tempo, permitiu que os jogadores viajassem para períodos históricos diversos, desde a era pré-histórica até o futuro no espaço sideral.
O impacto comercial de Crash 3 foi imenso. Em apenas uma semana após seu lançamento, ele vendeu mais de 862 mil cópias na América do Norte, e até 2002 havia ultrapassado a marca de 5,7 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, tornando-se o 13º jogo mais vendido do PlayStation. Sua influência na cultura dos videogames foi tão significativa que, em 2024, a Rolling Stone o classificou como o 4º melhor jogo do PlayStation de todos os tempos.
11. Parasite Eve
Parasite Eve foi uma das primeiras tentativas verdadeiramente bem-sucedidas de fundir elementos de RPG com survival horror. Baseado no romance homônimo de Hideaki Sena, o jogo da Squaresoft usou o sistema de combate Active Time Battle de Final Fantasy com uma mudança significativa: os personagens podiam se movimentar durante as batalhas.

Visualmente, o jogo se destacava pelo uso de cenários pré-renderizados combinados com modelos 3D detalhados, criando ambientes urbanos realistas e reconhecíveis de Nova York. As sequências em CGI eram impressionantes, embora alguns críticos tenham lamentado a ausência de dublagem, especialmente na cena dramática de abertura. O sistema de personalização de armas era profundo, permitindo que os jogadores ajustassem e melhorassem seu arsenal através da combinação de itens encontrados ao longo da aventura.
O jogo foi um sucesso comercial expressivo, vendendo mais de 1,94 milhão de cópias globalmente, sendo 1,05 milhão apenas no Japão, onde se tornou o sexto jogo mais vendido de 1998. O próprio autor do romance original expressou sua admiração pelo jogo, afirmando que ficou “realmente impressionado com o quão bem os desenvolvedores traduziram o romance”. Parasite Eve estabeleceu um precedente importante para jogos que mesclavam gêneros diferentes, particularmente RPG e horror, influenciando títulos posteriores como Resident Evil Outbreak e até mesmo elementos da série The Last of Us.
10. Unreal
Desenvolvido pela Epic Games (então conhecida como Epic MegaGames), Unreal trouxe mudanças importantes para o gênero de FPS com seu motor gráfico inovador e design de mundo meticuloso. A Unreal Engine, apresentada neste jogo, tornou-se uma das tecnologias mais influentes da indústria pela sua facilidade de implementação e melhorias impressionantes relacionadas a iluminação dinâmica, texturas detalhadas e ambientes vastos. Justamente por isso, ela foi adotada por milhares de jogos nas décadas seguintes.

Ambientado no planeta Na Pali, Unreal colocava os jogadores no papel de Prisioneiro 849, sobrevivente da queda da nave prisional Vortex Rikers. A narrativa se desenrolava principalmente através de logs de texto descobertos ao longo da jornada, uma abordagem não-linear que permitia aos jogadores absorver a história no seu próprio ritmo. Essa técnica de storytelling ambiental, embora não fosse completamente nova, foi implementada com grande eficácia aqui.
O impacto comercial de Unreal foi significativo, vendendo 1,5 milhão de cópias. Na intensa batalha de vendas com StarCraft, Unreal alternava constantemente entre o primeiro e segundo lugar nas paradas de vendas semanais nos EUA, mostrando como o jogo capturou a imaginação dos jogadores. Seu legado, no entanto, vai muito além das vendas. A Unreal Engine hoje é a espinha dorsal de inúmeros títulos, desde jogos independentes até blockbusters AAA.
9. Tomb Raider 3: Adventures of Lara Croft
Tomb Raider 3: Adventures of Lara Croft foi o auge técnico da trilogia original da série, refinando a fórmula que havia conquistado milhões de jogadores nos dois títulos anteriores. A Core Design expandiu significativamente o escopo do jogo, criando fases em cinco lugares diferentes do mundo, incluindo a selva indiana, a fria Antártida, o deserto de Nevada, a Londres urbana e ilhas do Pacífico Sul. Cada local não apenas oferecia uma estética diferente, mas também desafios ambientais específicos, como áreas de baixa gravidade e superfícies escorregadias.

Tecnicamente, o jogo trouxe melhorias importantes. Os novos efeitos de iluminação e texturas mais variadas tornavam os ambientes mais atraentes e facilitavam a jogabilidade, permitindo que os jogadores identificassem mais facilmente bordas e pontos de salto. A introdução de novos veículos, como um quadriciclo, um barco e até mesmo um caiaque, diversificou a gameplay. A inteligência artificial dos inimigos também recebeu aprimoramentos, tornando os confrontos mais desafiadores e estratégicos.
Com isso, Tomb Raider 3 liderou as paradas de vendas no Reino Unido logo após seu lançamento e se tornou o segundo jogo mais vendido na Alemanha em 1998. Com aproximadamente 6 milhões de cópias vendidas mundialmente, o terceiro episódio da série cimentou o status de Lara Croft como uma das protagonistas mais reconhecíveis da cultura pop.
8. Banjo-Kazooie
A Rare já era conhecida pela qualidade de seus jogos quando lançou Banjo-Kazooie para o Nintendo 64 em junho de 1998, mas ninguém esperava que a dupla formada por um urso e uma ave seria responsável por um dos jogos de plataforma 3D mais queridos de todos os tempos.

O jogo se destacava pelo visual colorido e carismático, com mundos temáticos repletos de personalidade e humor britânico característico da Rare. O sistema de coleta de itens era surpreendentemente variado e seus desafios meticulosamente equilibrados para recompensar a exploração sem se tornar tedioso ou repetitivo. A trilha sonora dinâmica de Grant Kirkhope, que se adaptava conforme o ambiente (inclusive mudando quando o jogador mergulhava na água), contribuía para a atmosfera inesquecível do jogo.
Banjo-Kazooie foi aclamado pela crítica e vendeu mais de 3,6 milhões de cópias mundialmente, tornando-se como um dos maiores sucessos do Nintendo 64. O jogo é frequentemente citado, ao lado de Super Mario 64, como um dos títulos que definiram o que os jogos de plataforma 3D poderiam e deveriam ser, influenciando gerações de jogos do gênero.
7. Grim Fandango
Grim Fandango representou, ao mesmo tempo, o auge e a derrocada da Era de Ouro das aventuras gráficas point and click da LucasArts. Ambientado em uma versão noir da Terra dos Mortos inspirada na cultura mexicana, o jogo colocava os jogadores no papel de Manny Calavera, um agente de viagens para almas recém-falecidas. A combinação de folclore mexicano, estética de filme noir dos anos 1940 e elementos de art déco criou uma direção artística deslumbrante e totalmente original, diferente de absolutamente tudo o que havia sido lançado até 1998.

O designer e roteirista Tim Schafer entregou uma narrativa complexa e repleta de humor afiado, personagens memoráveis e temas profundos sobre vida, morte e redenção. Grim Fandango inovou tecnicamente ao substituir os fundos 2D pré-renderizados tradicionais por ambientes 3D completos, nos quais personagens modelados em 3D se moviam. Embora o novo sistema de controle tanque tenha gerado algumas críticas, a implementação de um sistema de interface contextual sem menus visíveis agradou e permitiu uma imersão maior na história.
Apesar da aclamação crítica quase universal, com muitas publicações atribuindo notas perfeitas, Grim Fandango não alcançou o sucesso comercial esperado: apenas 500 mil cópias foram vendidas. Ironicamente, o jogo que muitos consideram o ponto mais alto do gênero de aventura point-and-click também sinalizou seu declínio comercial. O legado do game, no entanto, permanece inabalável, com o lançamento de uma versão remasterizada em 2015 permitindo que uma nova geração descobrisse esta obra-prima.
6. Xenogears
Xenogears foi um dos RPG mais ambiciosos da história da Squaresoft e se destacou por sua narrativa filosófica que abordava temas complexos como religião, psicanálise, filosofia nietzschiana e teoria junguiana ao longo de uma história que se estendia por 15 mil anos.

Seu sistema de combate em duas camadas foi outro ponto que deixou os jogadores impactados. Ele permitia lutar tanto no controle direto dos personagens quanto pilotando mechas gigantes chamados “Gears”, oferecendo uma profundidade estratégica difícil de ver em JRPGs naquela época. A mistura de elementos 2D e 3D foi outra adição incrível e criava um visual distinto que compensava as limitações técnicas do PlayStation com estilo artístico marcante.
Comercialmente bem-sucedido, Xenogears vendeu mais de 1,19 milhão de cópias mundialmente. Sua influência perdura até hoje, com o diretor Tetsuya Takahashi posteriormente fundando a Monolith Soft e criando as séries Xenosaga e Xenoblade Chronicles, que, embora não sejam sequências diretas, carregam muito do DNA filosófico e temático de Xenogears.
5. StarCraft
Em meio a tantos jogos de estratégia em tempo real (RTS) que surgiam no fim dos anos 1990, StarCraft se destacou com uma abordagem que priorizava o equilíbrio perfeito entre três raças completamente distintas. Diferentemente de outros jogos do gênero, onde as facções frequentemente eram apenas reskins com pequenas variações, Terrans, Protoss e Zerg tinham unidades, mecânicas e estratégias radicalmente diferentes entre si, mas meticulosamente balanceadas. Essa inovação foi elogiada como uma solução para um problema que começava a afetar todos os outros jogos do estilo.

A narrativa rica e cinematográfica era muito envolvente para um jogo de estratégia da época. As cutscenes pré-renderizadas, combinadas com excelente trabalho de voz e uma trama que explorava temas como xenofobia, traição e sobrevivência, eram um elemento a mais que atraía jogadores novatos e experientes. Cada campanha não apenas mostrava perspectivas diferentes do mesmo conflito, mas também servia como um tutorial orgânico para as mecânicas únicas de cada raça, resultando em uma curva de aprendizado natural e envolvente.
O impacto cultural e comercial de StarCraft foi extraordinário, vendendo mais de 11 milhões de cópias mundialmente até 2009. Na Coreia do Sul, o jogo se tornou um fenômeno cultural sem precedentes, com jogadores profissionais alcançando status de celebridade e três canais de televisão dedicados às competições. O impacto foi tão grande que a Força Aérea dos EUA chegou a incorporar StarCraft em seu Curso Básico de Ar e Espaço, usando o jogo para ensinar oficiais recém-ativos sobre planejamento de crises sob estresse e trabalho em equipe.
4. Half-Life
Half-Life mudou para sempre a forma como as histórias são contadas em jogos FPS. Abandonando as cutscenes tradicionais por uma narrativa ininterrupta apresentada inteiramente na perspectiva em primeira pessoa do protagonista Gordon Freeman, o jogo da Valve nunca quebrava a imersão do jogador. Os eventos se desenrolavam naturalmente enquanto o jogador explorava as instalações de Black Mesa após um experimento catastrófico.

O level design meticuloso criava uma sensação de lugar real, com áreas que serviam a propósitos lógicos dentro da instalação científica. A IA dos inimigos era extremamente avançada para a época, com soldados trabalhando em equipe para flanquear o jogador ou jogar granadas para forçá-lo a sair de cobertura. A introdução de personagens aliados que auxiliavam o jogador e avançavam a narrativa através de diálogos naturais foi outro elemento que elevou o senso de imersão e realismo.
Comumente descrito por críticos como um dos melhores jogos de todos os tempos, Half-Life catapultou a Valve para o panteão das desenvolvedoras mais importantes da indústria. Sucesso comercial, ele vendeu mais de 9,3 milhões de cópias e quebrou o recorde mundial do Guinness de “FPS Mais Vendido de Todos os Tempos (PC)” na edição de 2008 do Guinness World Records: Gamer’s Edition, fincando seu pé na história dos videogames.
3. Metal Gear Solid
Hideo Kojima transportou sua série de espionagem Metal Gear para o mundo 3D com Metal Gear Solid, uma experiência cinematográfica que inaugurou uma nova forma de contar histórias nos videogames. Lançado para PlayStation em setembro de 1998, o jogo seguia Solid Snake em uma missão para infiltrar uma instalação nuclear tomada por terroristas.

A mistura de gameplay stealth meticuloso com sequências dignas de filmes de Hollywood, dubladas por atores profissionais, criava uma experiência imersiva em uma história complexa de espionagem, política global e traição. Kojima aproveitou ao máximo as limitações do PlayStation, transformando restrições técnicas em elementos de design inteligentes, como o uso de radar para compensar o campo de visão limitado e trocar de porta no controle para resistir à tortura até o infame confronto com Psycho Mantis, que “lia a mente” do jogador examinando o conteúdo do Memory Card e movia o controle através da função de vibração.
O impacto comercial e cultural foi imenso. Apesar de nem o próprio Kojima esperar por isso, Metal Gear Solid vendeu mais de 7 milhões de cópias em todo o mundo e provou em definitivo que os videogames podiam oferecer experiências narrativas tão ricas e envolventes quanto o cinema e a literatura. Mais do que isso, o jogo se tornou um dos maiores da história do PlayStation.
2. Resident Evil 2
Resident Evil 2 ampliou a fórmula do survival horror de seu antecessor em todos os sentidos. O inovador sistema de “zapping” permitia que os jogadores experimentassem a história sob duas perspectivas diferentes – com Leon Kennedy e com Claire Redfield – com ações em um cenário afetando eventos no outro, criando uma experiência narrativa interconectada que aumentava o fator replay.

Tecnicamente, o jogo representou um grande avanço. Os fundos pré-renderizados eram significativamente mais detalhados e interativos que os do primeiro jogo, as cutscenes em CGI substituíram as sequências live-action do original e as animações dos personagens alcançaram “verdadeiro realismo”, como apontaram críticos na época. O design de som foi muito elogiado por utilizar efeitos sonoros precisos e uma trilha sonora atmosférica para amplificar a tensão.
O sucesso comercial foi imediato e impressionante. Nos Estados Unidos, o título foi o videogame mais vendido da história no fim de semana de lançamento, com mais de 380 mil cópias vendidas, superando a receita de abertura de todos os filmes de Hollywood da época, exceto Titanic. Com aproximadamente 6 milhões de cópias vendidas só no PlayStation, Resident Evil 2 consolidou a franquia como sinônimo de survival horror e lançou personagens icônicos que permanecem relevantes até hoje, como comprovado pelo aclamado remake de 2019.
1. The Legend of Zelda: Ocarina of Time
Quando a Nintendo finalmente revelou The Legend of Zelda: Ocarina of Time em novembro de 1998, após anos de desenvolvimento e múltiplos adiamentos, o jogo não só superou todas as expectativas e o hype do público, como transformou toda a indústria de videogames para sempre.

O sistema de combate com travamento de alvo, conhecido como “Z-targeting”, resolveu elegantemente um dos maiores desafios dos jogos 3D da época: como permitir combates precisos em ambientes tridimensionais. A solução foi tão eficaz que praticamente todos os jogos de ação em terceira pessoa que vieram depois adotaram alguma variação desta mecânica.
A progressão do jogo, alternando entre Link criança e adulto, permitia que os jogadores vissem como suas ações no passado afetavam o futuro, criando quebra-cabeças complexos e uma narrativa com camadas surpreendentes. A música, elemento sempre importante na série, ganhou nova dimensão com a ocarina, um instrumento que o jogador usava para resolver puzzles, transportar-se pelo mundo e até mesmo alterar o tempo.
O impacto crítico e comercial foi esmagador. Ocarina of Time é frequentemente considerado um dos melhores jogos já criados, mantendo até hoje a maior pontuação agregada no Metacritic e GameRankings, com impressionantes 99/100 e 98%, respectivamente. Sua importância é tamanha que muitos críticos dizem que ele definiu o que um jogo de aventura em 3D deveria ser, vendendo mais de 2,5 milhões em apenas 39 dias após seu lançamento e rendendo mais de US$ 150 milhões à Nintendo.
Menções honrosas
Embora 1998 tenha sido repleto de jogos extraordinários, alguns títulos ficaram de fora da nossa lista de jogos mais icônicos, mas merecem reconhecimento por suas contribuições. Estes jogos, mesmo não alcançando o mesmo nível de impacto cultural ou inovação dos 15 principais, ainda são memoráveis e cativaram jogadores ao redor do mundo. Alguns foram precursores de gêneros que se tornariam extremamente populares anos depois, enquanto outros refinaram fórmulas existentes ao extremo. Todos, no entanto, demonstram a grande diversidade e qualidade dos jogos lançados naquele ano.
F-Zero X
Apesar de ter sido um dos títulos de lançamento do Super Nintendo, F-Zero demorou a ganhar um novo jogo. Mas a espera valeu à pena e F-Zero X estreou no Nintendo 64 com velocidade alucinante a 60 FPS constantes. Sacrificando detalhes gráficos em favor de fluidez absoluta, o jogo tinha corridas com 30 veículos simultâneos e circuitos com designs impossíveis que desafiavam a gravidade. O modo Death Race, onde o objetivo era eliminar todos os 29 oponentes, e o X Cup, que gerava pistas aleatórias proceduralmente, garantiram longevidade a um título que ainda hoje é reverenciado.

Pokémon Yellow
Aproveitando o sucesso fenomenal do anime, esta versão aprimorada de Pokémon Red e Blue aproximou o jogo da experiência televisiva, com Pikachu seguindo o jogador e expressando emoções. Embora tecnicamente fosse apenas uma iteração dos jogos anteriores lançados em 1996, Pokémon Yellow refinou a experiência, adicionou conteúdo e serviu como ponte para a segunda geração de jogos da GameFreak.
Spyro the Dragon
O carismático e fofo dragão roxo estreou no PlayStation em uma aventura de plataforma 3D em mundo aberto que impressionava tecnicamente. Criado pela Insomniac Games, o título se destacava pela liberdade de voo e pelo sistema de LOD (Level of Detail), que permitia a renderização de ambientes enormes com distâncias de visualização impressionantes — uma conquista técnica incrível para o hardware do PlayStation. A trilha sonora composta por Stewart Copeland, baterista da banda The Police, adicionava ainda mais qualidade a um jogo que iniciaria uma das franquias mais queridas do console da Sony.

Fallout 2
Expandindo o universo pós-apocalíptico do seu antecessor, Fallout 2 aprofundou os elementos de RPG e ampliou significativamente o escopo narrativo. Com uma área jogável muito maior, o jogo oferecia ainda mais liberdade de escolha moral, com consequências significativas para as ações do jogador em um mundo devastado pela guerra nuclear. Todos esses elementos ajudaram o título a definir a identidade da franquia, que ficou conhecida por sua abordagem não-linear e sistema de reputação e progressão.
Commandos: Behind Enemy Lines
O fim dos anos 1990 foi a Era de Ouro dos RTS, com diferentes propostas surgindo a cada mês. Nessa enxurrada de novidades, Commandos: Behind Enemy Lines colocava o jogador no controle de um esquadrão de elite durante a Segunda Guerra Mundial. Exigindo planejamento superdetalhado e coordenação precisa, o jogo trazia personagens com habilidades únicas para completar missões contra forças alemãs numericamente superiores. A perspectiva isométrica detalhada e o alto nível de desafio conquistaram PC gamers em todo o mundo, vendendo mais de 1,5 milhão de cópias e inaugurando uma série de jogos que segue viva até hoje.

1998: um dos melhores anos da história dos games
1998 é amplamente considerado um dos melhores anos da história dos games, marcado pela transformação e maturidade das desenvolvedoras e dos jogos. Foi uma época em que os videogames apresentavam narrativas mais complexas e mecânicas de gameplay cada vez mais sofisticadas. A combinação de inovação técnica, criatividade artística e ambição comercial resultou em uma safra de jogos de altíssima qualidade que poucas vezes foi igualada desde então.
Tamanha diversidade também era perceptível na proposta das plataformas disponíveis. Enquanto o PlayStation dominava o mercado com sua vasta biblioteca, o Nintendo 64 compensava seu catálogo mais tímido com títulos de qualidade excepcional como Ocarina of Time e Banjo-Kazooie. O PC, por sua vez, vivia um renascimento dos RPGs e FPS com obras-primas como Baldur’s Gate, Half-Life e Unreal, cujas repercussões são sentidas até hoje. A Sega, por outro lado, se preparava para sua última grande aposta.
Olhando para trás, é impressionante perceber como tantos jogos influentes surgiram em um único ano. Mais impressionante ainda é constatar que muitos deles continuam perfeitamente jogáveis e divertidos até hoje, enquanto outros receberam remakes ou remasterizações que comprovam a atemporalidade de suas ideias.
Por isso, se tivéssemos que escolher um único ano para representar o melhor que os videogames podem oferecer, 1998 seria um forte candidato ao título.
Os melhores jogos 1998 em resumo
- The Legend of Zelda: Ocarina of Time: Revolucionou jogos de aventura 3D com o sistema Z-targeting e uma narrativa épica que transcende o tempo
- Resident Evil 2: Expandiu o horror para além da mansão, com campanhas interligadas e personagens icônicos em uma Raccoon City devastada
- Metal Gear Solid: Elevou a narrativa em games a novos patamares com sua abordagem cinematográfica e gameplay stealth inovador
- Half-Life: Redefiniu a narrativa em primeira pessoa com sua história contada sem interrupções da jogabilidade
- StarCraft: Estabeleceu o padrão de ouro para estratégia em tempo real com três raças perfeitamente balanceadas e ajudou a criar a base dos esports modernos
- Xenogears: Combinou narrativa filosófica complexa com um sistema de combate de duas camadas envolvendo personagens e mechas
- Grim Fandango: Misturou art déco, film noir e folclore mexicano em uma aventura point-and-click memorável
- Banjo-Kazooie: Redefiniu o que platformers 3D podiam ser com sua jogabilidade refinada e personagens carismáticos
- Tomb Raider 3: Expandiu as aventuras de Lara Croft com novas mecânicas e cenários globais diversificados
- Unreal: Impressionou com visuais revolucionários e introduziu o motor gráfico que transformaria a indústria
- Parasite Eve: Fundiu RPG e survival horror em uma experiência única ambientada em Nova York
- Crash Bandicoot: Warped: Aprimorou a fórmula da série com viagens no tempo e novas habilidades desbloqueáveis
- Sonic Adventure: Marcou a estreia do ouriço azul em ambientes 3D completos com visual impressionante no Dreamcast
- Baldur’s Gate: Revitalizou os RPGs ocidentais com sua implementação fiel das regras de D&D e narrativa épica
- Thief: The Dark Project: Pioneiro no gênero stealth em primeira pessoa com mecânicas inovadoras de luz e som
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Fonte: Canaltech - Leia mais