A Sociedade da Informação vem demandando cada vez mais infraestrutura e tecnologia para dar conta da crescente necessidade de conectividade ampliada e altíssima capacidade computacional, ambas potencializadas pela disseminação da Inteligência Artificial (IA).
Falhar na disponibilidade computacional ou na sua acessibilidade gera desigualdade social e compromete a capacidade de inovação e, por isso, merecem a devida atenção. No cenário atual de transformação digital, qualquer fragilidade nessas dimensões pode resultar em uma sociedade fragmentada, sem capacidade de inovação, culminando em uma economia frágil, desigual e pouco competitiva.
Por um lado, a capacidade computacional encontra-se atualmente em pleno desenvolvimento com a construção de diversos datacenters de grande porte no Brasil. Essa é uma infraestrutura importante para viabilizar iniciativas tecnológicas envolvendo IA e que vão das cidades inteligentes a estudos complexos que revolucionarão muitas profissões e atividades, passando, até, por projetos de colonização de outros planetas. Não há limites para o potencial transformador dessas tecnologias.
No entanto, existe um risco significativo em se concentrar essa infraestrutura exclusivamente em grandes datacenters (tipicamente denominado como cloud computing). Essas infraestruturas geralmente estão localizadas a dezenas, centenas ou milhares de quilômetros de distância do usuário, sobrecarregando as redes de telecomunicações ou inviabilizando aplicações com exigências específicas de latência ou necessidades de processamento local.
É preciso expandir o conceito de cloud computing para incluir o desenvolvimento de capacidade computacional local, posicionada nas bordas das redes em pequenos datacenters geograficamente dispersos. Levar o processamento para as bordas da rede abre uma oportunidade para tornar o cloud computing mais próximo e denso, como uma neblina (fog computing), metáfora adequada para representar essa tendência tecnológica.
As medidas que visem ampliar a infraestrutura computacional (por meio de políticas públicas de financiamento e de incentivos) devem obrigatoriamente abranger também as soluções focadas em datacenters locais e distribuídos (edge datacenters). Essa abordagem não apenas melhora a eficiência computacional, como também pode impulsionar setores estratégicos como agricultura de precisão, indústria 4.0 e mobilidade urbana conectada.
Essa arquitetura tecnológica pode gerar outra importante vantagem: reduzir o custo do terminal dos usuários (smartphone, tablet, notebook ou desktop). Terminais com IA demandam processadores mais sofisticados, bateria com maior capacidade e, ainda, sistemas de resfriamento que os encarecem muito. A adoção de computação de alta disponibilidade distribuída (fog computing) permite que os terminais de usuários sejam mais simples e baratos, sem renunciar à experiência de IA, pois o processamento pode ser realizado nos edge datacenters, próximo aos usuários.
Além disso, é fundamental promover iniciativas de letramento digital e desenvolvimento de habilidades técnicas. Medidas como essa podem impulsionar enormemente planos e projetos educacionais e de cidadania digital, capacitando as pessoas a utilizarem as tecnologias de forma crítica e produtiva. Tais iniciativas não apenas incentivam a inclusão digital, como também geram um impacto socioeconômico significativo, estimulando a criação de empregos e fortalecendo as comunidades locais.
Superar esses desafios exige um grande esforço computacional. É interessante notar que a grande inovação aqui pode ser, justamente, traçar um caminho que passe por redes compartilhadas e com muita “névoa” (fog). Essa abordagem integra inovações tecnológicas, modelos sustentáveis e políticas públicas estruturadas, estabelecendo as bases para uma transformação digital inclusiva, eficiente e resiliente.
Antonio Maya, CTO da IHS Latam.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais