Vale do Silício. Quando se ouve esse nome, a mente já viaja para um universo de inovação frenética, robôs falantes, startups de garagem que viram unicórnios e uma corrida insana por tecnologia de ponta e, sim, tudo isso existe por lá. Mas o que encontramos nessa imersão recente foi algo um pouco mais real e muito mais relevante.
O que vimos foi um Vale mais pé no chão. Um ambiente que ainda respira inovação, claro, mas que agora está completamente focado em eficiência. O momento não é de glamourizar tecnologia — é de fazer ela funcionar, de verdade. E é aí que entra a inteligência artificial.
Não como fetiche tecnológico, mas como ferramenta. Não como substituta de pessoas, mas como uma aliada que elimina fricções, automatiza o que não agrega e abre espaço para o que realmente importa.
Em uma das conversas mais marcantes da semana, ouvimos de um executivo do Google que, mesmo lá dentro, a implementação de IA ainda enfrenta desafios estruturais. E isso diz muito. Porque se o Google — um dos gigantes da tecnologia — ainda está descobrindo como aplicar IA de forma escalável, o recado para as outras empresas é claro: não é simples, não é automático, e nem sempre é rápido, mas é necessário.
Outro ponto que nos provocou foi o papo com uma brasileira à frente de uma startup que usa IA para vendas no Vale. O diferencial dela? Clareza. Ela trouxe uma visão afiada sobre o uso da IA com propósito. Nada de empilhar soluções artificiais para parecer moderno. A IA, para ela, serve para aprofundar o conhecimento sobre o cliente, antecipar comportamentos, agir com inteligência. Tudo isso para tornar o processo comercial mais estratégico, mais humano até — porque sobra tempo para as pessoas fazerem o que as máquinas ainda não conseguem.
Na outra ponta, teve também quem pintou um cenário quase apocalíptico. Um especialista em robótica nos falou sobre máquinas autônomas, cérebros artificiais e até possíveis rebeliões tecnológicas no futuro. Pode parecer roteiro de série, mas a discussão foi importante: nos fez lembrar que o uso da tecnologia precisa ser sempre acompanhado de responsabilidade, ética e lucidez.
Podemos dizer que a palavra lucidez foi a grande bússola da nossa jornada. Porque o que vimos não foi uma IA mágica resolvendo tudo com um clique. Vimos, sim, uma ferramenta poderosa sendo usada por quem tem clareza do que quer melhorar.
Essa clareza está totalmente conectada ao aumento de eficiência. A IA está transformando como as grandes empresas (Google, Spotify e tantas outras) tomam decisões. Contratações? Só depois de checar se a IA consegue resolver. Novos investimentos? Só se fizer mais com menos. Tudo gira em torno de uma pergunta: como podemos ser mais eficientes?
É essa mentalidade que queremos trazer para dentro das empresas. Não queremos robôs dominando o mundo. Queremos processos mais simples, dados mais acionáveis, tempo melhor aproveitado. Queremos que nossos times possam focar no que gera valor — e deixar para a IA aquilo que consome energia sem retorno.
A IA não é sobre substituir gente. É sobre liberar o que há de melhor nas pessoas. Voltamos do Vale não com promessas, mas com missões claras: reduzir atritos nos nossos fluxos, entender onde a IA realmente se encaixa, preparar nossos times para usá-la com inteligência e, acima de tudo, garantir que tudo isso gere impacto real nos nossos negócios — e nos negócios dos nossos clientes. Porque a inteligência artificial só faz sentido quando resolve problemas concretos.
Tiago Amor, CEO da Lecom.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais