Em um cenário ainda majoritariamente masculino, a presença feminina na área de tecnologia e dados vem ganhando força — e, em boa parte, graças ao trabalho de mulheres como Priscila Paolinelli. Professora da PUC Minas, embaixadora da Qlik, é uma referência em alfabetização em dados e uma das principais vozes no movimento “Mulheres em Dados”, uma iniciativa global que busca inspirar, apoiar e ampliar a presença feminina no setor de tecnologia e, especialmente, em ciência de dados.
Em entrevista no evento Qlik Connect 2025, em Orlando, que termina nessa sexta-feira, 16, Priscila fala sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de tecnologia, sua trajetória pioneira e os projetos que lidera hoje com foco na educação de dados. Com mais de 20 anos de experiência na área, ela vê o conhecimento em dados como uma competência fundamental não só para o mercado de trabalho, mas para a cidadania
Ela começou sua jornada em tecnologia em 1999, ainda quando a presença feminina nos cursos de Computação era quase nula. “Na minha sala, eu era uma das poucas mulheres. Me formei em segundo lugar geral da turma. Era algo que eu realmente amava”, conta.
A transição para a área de dados ocorreu em 2003, durante sua atuação em uma empresa do setor siderúrgico. A partir daí, ela se especializou em Business Intelligence, se tornou professora universitária e começou a perceber um desafio urgente: as pessoas têm medo dos dados.
“Tem gente que trava na frente de uma planilha, não confia nos números, e prefere seguir pela intuição. Isso é cultural e muito perigoso”, alerta.
Mulheres em Dados: visibilidade e protagonismo
Foi justamente a percepção dessa resistência e a baixa representação feminina que levou Priscila a se engajar com o Women in Data, movimento que hoje também se ramifica dentro da própria Qlik, empresa referência em plataformas de dados.
“Em 2018, eu descobri o trabalho da Angelika Klidas, autora de Data Literacy in Practice, um dos livros mais importantes sobre alfabetização em dados. Depois tive a chance de conhecê-la em Las Vegas, em 2023, e desde então temos colaborado em diversas ações.”
Durante um evento da Qlik na Suécia, a disparidade ficou ainda mais evidente: “Dos mais de 30 especialistas globais presentes, apenas três eram mulheres. Foi ali que decidimos criar o grupo Mulheres em Dados dentro do Qlik Luminaries, para promover a inclusão e o incentivo de outras mulheres na área”.
Segundo Priscila, a verdadeira transformação tecnológica não ocorre com ferramentas, mas com conhecimento. “A alfabetização em dados é minha bandeira. Ela é essencial para qualquer organização, mas também para a vida das pessoas. A gente precisa formar cidadãos capazes de entender, questionar e tomar decisões baseadas em evidências”, defende.
Entre os projetos que lidera, está a criação de um programa de data literacy corporativo, já implementado em grandes empresas como a Localiza, Valourec e a Prefeitura de Belo Horizonte. “A ideia é ensinar desde o que é um dado confiável até como interpretá-lo com senso crítico. Sem isso, a gente corre o risco de tomar decisões ruins — ou, pior, comprometer a reputação de uma empresa.”
Priscila é direta ao falar sobre os desafios da mulher na tecnologia: “Quando comecei, não existiam grupos de apoio. Era enfrentar ou recuar. Hoje temos movimentos, coletivos, redes de apoio — e isso faz muita diferença”.
Mas ela reforça que o caminho ainda é longo. “As mulheres ainda enfrentam a dupla jornada, são minoria em cargos técnicos e de liderança, e muitas vezes precisam provar o tempo todo que merecem estar ali. Por isso, é tão importante termos mulheres como exemplo visível.”
Na sala de aula, ela já vê avanços. “O número de alunas mulheres aumentou sim. Ainda não é ideal, mas melhorou. E a existência de grupos como ‘Mulheres na Segurança’, ‘Mulheres de BI’ e tantos outros tem contribuído para isso.”
O futuro passa por dados — e pela inclusão
Sobre o momento atual, Priscila destaca que as empresas estão, finalmente, entendendo que dados são ativos estratégicos. “A inteligência artificial generativa despertou interesse em massa. Mas ainda temos empresas com processos manuais, dados de má qualidade e equipes despreparadas.”
Ela reforça que a transformação exige mais do que ferramentas sofisticadas. “É preciso senso crítico, responsabilidade e educação. Não adianta só colocar o dado no sistema. Tem que saber como ele chegou ali e o que ele significa. Por isso, alfabetização em dados tem que começar na escola.”
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais