O mercado de pagamentos digitais no Brasil tem passado por transformações significativas nos últimos anos, impulsionado por inovações tecnológicas, mudanças regulatórias e novas dinâmicas de consumo. O futuro dos meios de pagamento está intrinsecamente ligado à oferta de serviços integrados, que respondam às demandas de um consumidor mais conectado, exigente e em busca de conveniência.
A ascensão do Pix, lançado pelo Banco Central em 2020, exemplifica essa transformação. Em pouco tempo, ele se consolidou como o método de pagamento preferido dos brasileiros, sendo utilizado por 76,4% da população brasileira, sendo a forma de pagamento mais frequente para 46% dos consumidores. Além disso, a funcionalidade “Pix Parcelado”, prevista para setembro de 2025, ampliará sua competitividade em relação ao crédito tradicional, oferecendo flexibilidade sem intermediários.
Essas mudanças evidenciam que o pagamento, por si só, deixa de ser o produto final. O valor agora está no que vem junto com ele: gestão, personalização, integração com outras soluções e eficiência operacional. É nesse contexto que a inteligência artificial (IA) e a hiperpersonalização ganham protagonismo. A IA generativa tem potencial para automatizar processos, agilizar aprovações, identificar fraudes em tempo real e construir experiências mais relevantes para cada tipo de cliente.
A oferta de serviços se torna o verdadeiro diferencial competitivo: empresas que usam os dados para conhecer melhor seus clientes e oferecem soluções que vão além do “checkout” — como reconciliação automática, cashback inteligente, controle de fluxo de caixa, entre outros — estarão um passo à frente.
Por outro lado, o setor também precisa estar atento a uma nova geração de desafios regulatórios. Novas normas, como as que regem o Banking as a Service (BaaS), estão redefinindo o papel dos emissores, bancos e credenciadoras. Hoje, companhias de diferentes setores — de varejistas a empresas de mobilidade — podem oferecer produtos financeiros personalizados, reduzindo a distância entre a experiência do cliente e os serviços financeiros que o atendem.
O governo brasileiro tem desempenhado um papel crucial nessas mudanças. Entre 2019 e 2022, foram aprovadas reformas estruturantes, como a trabalhista, da previdência e a autonomia do Banco Central, além de marcos regulatórios importantes em áreas como saneamento e startups. Esse ambiente jurídico e institucional mais moderno favorece a inovação e a competição — dois pilares fundamentais para o avanço do setor.
Para nós, que atuamos nos bastidores do ecossistema de pagamentos, é essencial reconhecer que o modelo de negócio está mudando. O pagamento deixa de ser o fim e passa a ser o meio: uma porta de entrada para serviços de maior valor agregado. Investir em tecnologias, compreender as nuances regulatórias e estar preparado para transformações geopolíticas são passos fundamentais para se manter competitivo. Mais do que isso, é preciso transformar maquininhas em verdadeiros hubs de dados e inteligência, capaz de apoiar a estratégia de vendas do varejo e gerar valor para toda a cadeia.
A colaboração entre empresas, governo e sociedade será determinante para moldar um futuro onde os meios de pagamento sejam mais do que um clique ou uma maquininha: serão plataformas completas de serviço, eficiência e inteligência a favor do consumidor.
Antonio Freixo, CEO do Grupo Entre e da Entrepay.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais