Já faz um tempinho que o conceito de Multiverso é explorado na cultura pop, especialmente nos quadrinhos, nos cinemas e em séries de TV. É uma forma de reimaginar personagens e cenários, de maneira que os criadores possam “brincar” com a trama. E, embora isso seja bastante divertido, pode causar um “nó” na nossa cabeça.
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Com a atual Saga do Multiverso do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla, em inglês) chegando ao seu auge, é importante saber um pouco mais sobre isso, pois, embora a série Loki tenha dado mais detalhes, as outras atrações do Marvel Studios não se aprofundaram muito nesse assunto.
E como funcionam exatamente as linhas temporais e realidades paralelas da Casa das Ideias? De que maneira isso vem sendo adaptado?
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Temos que falar sobre espaço e tempo
Antes de mais nada, preciso alertar que a proposta deste texto não é debater a fundo teorias científicas; mas, claro, o conceito de Multiverso nos quadrinhos se apoia na lógica que conhecemos há décadas sobre espaço e tempo. O mais importante aqui nesta conversa é definirmos bem a diferença de linhas temporais e realidades paralelas.
Um mundo pode ter infinitas linhas temporais, que podem ser a razão pela geração de realidades paralelas em determinado universo. De forma semelhante, um universo pode ter vários mundos alternativos, a partir da combinação das linhas temporais e/ou realidades paralelas. E o Multiverso seria a reunião desses vários universos. Parece complicado — e é. Mas conforme explico, você vai notar que fica mais fácil compreender.
Na DC Comics, isso é estabelecido de forma mais clara, já que a editora costuma brincar muito com seus personagens de outras realidades; e a própria natureza de heróis como Flash explora bastante os conceitos de mundos alternativos, universos e linhas temporais.

O Hipertempo da DC, por exemplo, lida com as realidades criadas a partir de linhas temporais, enquanto o Multiverso agrega as várias Terras da editora. Atualmente, isso até escalou para o Omniverso, que é uma junção de Multiversos — mas vamos deixar isso para outra hora, porque a ideia aqui é explicar o que acontece na Marvel.
O Multiverso Marvel
O conceito de Multiverso apareceu pela primeira vez na Marvel em 1977, com a revista What If?, que explorava personagens conhecidos em diferentes versões e cenários. “O que aconteceria se o Homem-Aranha tivesse se juntado ao Quarteto Fantástico?”, “O que aconteceria se o Homem de Ferro fosse um traidor?”, entre outras perguntas, projetaram tramas e heróis conhecidos em situações vistas sob outra perspectiva — vale lembrar que uma série animada baseada nesse título chega em agosto no Disney+.
Desde então, nunca houve uma explicação muito clara, mas há algumas coisas estabelecidas sobre o assunto na Casa das Ideias. O Multiverso Marvel “é uma coleção de universos alternativos que compartilham uma hierarquia universal”, diz a definição da própria editora. Algumas das Terras paralelas nascem de eventos com entidades cósmicas que zoam os mundos, a exemplo dos Celestiais ou dos Beyonders; mas a maioria acaba sendo formada por viagens temporais — algo que se tornou frequente na editora em certo período (falaremos sobre isso mais abaixo).
O Multiverso Marvel é protegido pela entidade conhecida como o Tribunal Vivo, que é um dos poucos seres com a mesma representação em todas as realidades. É o Tribunal Vivo que evita que um universo acumule mais poder do que qualquer outro e perturbe o equilíbrio cósmico mantido pelo Aquele Acima de Tudo — também conhecido como One Above All, que é a representação de Deus na Casa das Ideias.
Com o tempo, a Marvel se viu obrigada a explicar melhor seu Multiverso. Para isso, acrescentou em seu cânone a agência temporal Time Variance Authority (TVA), que ficou famosa com a estreia de Loki e observa discrepâncias temporais para manter a “continuidade oficial”; e a Captain Britain Corps, grupo formado pelos Capitães Britânia e liderado pelo mago Merlin para manter a coesão da Terra-616, que é a Terra do principal universo.

O Multiverso Marvel possui infinitas realidades, nas quais sempre há um personagem destacado como epicentro das histórias. Isso facilita identificar cada uma delas. Além disso, há alguns seres e grupos que existem em uma espécie de “limbo”, posicionado fora de linhas alternativas ou mundos paralelos. É o caso da TVA, do Tribunal Vivo e da Corporação dos Capitães Britânia — aliás, nos bastidores de Hollywood haviam rumores sobre a chegada do Capitão Britânia às telonas, e a abertura do Multiverso Marvel ao MCU poderia ser uma boa oportunidade para isso.
Vale destacar que certas dimensões do Multiverso Marvel não fazem parte de um universo paralelo independente e estão em uma zona comum de acesso a várias realidades. Este é caso do Microverso, do Mojoverso, da Zona Negativa, do Outro Lugar, do Inferno e de outros mundos que não estão exatamente atrelados a uma Terra específica.
Há também os chamados “Seres Nexus” e o Nexus das Realidades, que serve como um acesso central para vários universos do Multiverso. Sobre isso, especificamente, já explicamos por aqui durante a exibição de WandaVision.

As mais famosas Terras paralelas da Marvel Comics
Muitas aventuras, arcos e edições especiais aconteceram nas mais diversas Terras do Multiverso Marvel, e uma das mais populares é a saga Guerras Secretas (a de 2015). Nesta edição, vimos a junção de heróis e vilões de diferentes mundos em um só lugar, no chamado Battleworld. Abaixo, você confere algumas das Terras presentes na trama, e que também foram palco de histórias famosas.
Terra-616 (Universo principal)
Esta é a Terra do universo da “cronologia oficial” da editora, onde tudo acontece “para valer”. É onde as histórias se entrelaçam de forma ininterrupta, em tramas compartilhadas entre os títulos, com tudo o que foi publicado pela Marvel Comics desde 1939, quando ainda era chamada de Timely Comics. A noção de todos os personagens usando a mesma continuidade foi estabelecida em Fantastic Four #1, em 1961, e segue assim até hoje.
Terra-1616 (Terra Ultimate)
A primeira linha Ultimate foi criada para revitalizar as propriedades da editora em uma realidade em que nosso Peter Parker morreu e Miles Morales é quem assumiu o manto do Homem-Aranha. Era uma iniciativa experimental que acabou dando certo com vários personagens, como a versão mais realista dos Vingadores, os Supremos, que foi a base para a criação do grupo na Marvel Studios. Nas Guerras Secretas de 2015, a Terra-1616 se fundiu à Terra-616, trazendo alguns dos heróis e vilões de lá para a cronologia oficial — como o próprio Morales. Contudo, histórias recentes mostram que a Terra-1616 ainda existe de forma independente.
Terra-982 (2099)
Nos anos 1990, a Marvel Comics tentou emplacar uma nova linha editorial baseada no futuro breve de seus personagens, em títulos que até deram certo inicialmente. Homem-Aranha 2099, Justiceiro 2099 e Motoqueiro Fantasma 2099 fizeram bastante sucesso durante o lançamento; e a proposta até revitalizou franquias que pareciam perdidas, como as do Justiceiro e do Motoqueiro Fantasma.

Mas não durou tanto tempo e, agora, algumas dessas versões dos personagens aparecem em eventos especiais. Aliás, o Homem-Aranha de 2099 deve aparecer na animação Homem-Aranha: No Aranhaverso 2.
Terra-811
Esta Terra nasceu de uma linha temporal em que os X-Men foram dizimados, na trama de Dias de um Futuro Esquecido, que até mesmo ganhou adaptação para os cinemas. No arco original, Rachel Summers volta no tempo para evitar que a tragédia aconteça. E aqui vai uma curiosidade: a história foi lançada originalmente em 1981, bem antes de Exterminador do Futuro, de 1984, que tem uma premissa semelhante — e até mesmo o diretor James Cameron admitiu ter sido influenciado pela obra.
Terra-295
Famoso pelo arco Era do Apocalipse, esse é um mundo em que Charles Xavier não existe, e o então vilão Apocalipse tomou conta da humanidade. Também foi uma anomalia temporal, corrigida no final da saga.
Terra-2149
Este universo é usado pela Marvel Comics para explorar as versões desmortas das propriedades da editora nos especiais Zumbis Marvel.
Terra-58163
Quando a Feiticeira Escarlate ficou mentalmente desequilibrada após se dar conta de que seus filhos não eram fruto de uma relação real com o Visão, ela criou um universo em que os mutantes eram maioria no planeta, durante o evento Dinastia M.
Terra-65
Esta é uma das únicas Terras do Multiverso em que Peter Parker não é o Homem-Aranha original. Aqui, quem se torna o Escalador de Paredes, ou melhor, a Escaladora de Paredes, é Gwen Stacy. Daí veio a Spider-Gwen que aparece em Homem-Aranha: No Aranhaverso.
Terra-807128
Neste cenário, os vilões exterminaram quase todos os heróis e Wolverine, já velho, deixou de ser um herói há tempos, após ser levado a executar seus colegas de equipe. E daqui saiu o arco Velho Logan, que inspirou a adaptação Logan.
Terra-311
Imagine os heróis da Marvel Comics vivendo no século XV, com histórias contadas pelas mãos poéticas de Neil Gaiman. Essa foi a premissa da minissérie 1602, que destacou essa realidade, em que vemos estranhas e intrigantes versões dos personagens da Casa das Ideias.

O tempo é um organismo na Marvel
Como dá para notar na própria descrição das Terras do Multiverso Marvel, muitas das realidades paralelas existentes nasceram de mudanças na linha temporal. Ou seja, a editora usou muito esse recurso ao longo das décadas, o que trouxe várias incongruências e deixou tudo ainda mais complicado de explicar. Em 2013, quando a primeira turma dos X-Men estava simultaneamente com os X-Men do presente, a editora, então, apresentou um conceito para tentar justificar essas anomalias e os próprios erros cronológicos.
Na trama do especial Era de Ultron, que nada tem a ver com o filme, Ultron tomou conta da Terra e os heróis decidem voltar ao passado para matar Hank Pym, o criador do robô. Wolverine e Sue Richards são designados para essa tarefa e, quando estavam prestes a cumpri-la, um Tony Stark consumido pela tecnologia tenta impedi-los. Ele explica que o tempo é um ser vivo, e que, de tanto “machucá-lo” com as viagens temporais, sofreu uma avaria grave — daí as constantes incongruências cronológicas.

Tudo bem que foi uma explicação meio desconexa e que nem mesmo é lembrada atualmente, mas serviu para deixar os Novíssimos X-Men por um tempo com a turma mais velha. Era muito divertido ver um Ciclope jovem e mais ingênuo, sem as mesmas rusgas com o irmão Destrutor ou com o Professor Xavier.
Nesse período, o Hulk também passou pela interessante fase “indestrutível”, em que Bruce Banner “cedeu” o Gigante Esmeralda para que a SHIELD pudesse corrigir certas anomalias temporais, enviando o herói para diversos períodos no tempo — algo semelhante com o que vemos em Loki. Em troca, Banner recebia tecnologia para provar que é mais inteligente do que Tony Stark e Reed Richards.
Em uma semana, por exemplo, ele criou um dispositivo que acabou com a seca na África. Essa versão de Banner, embora muito mais genial do que o cientista medroso que não costuma muito se gabar de seu intelecto avançado, era bem mais cínica e era muito mais destrutiva do que o Hulk. Pena que durou pouco tempo.

Como é o Multiverso Marvel no MCU?
Já sabemos que existem dimensões paralelas no MCU, graças ao Reino Quântico e ao lugar onde fica a TVA. E as viagens temporais foram introduzidas em Vingadores: Ultimato. Doutor Estranho no Multiverso da Loucura revelou mundos paralelos, assim como WandaVision, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e Loki — a realidade criada por Wanda em seu seriado pode ser considerado um “universo de bolso”.

No MCU as linhas temporais foram unificadas em uma só continuidade, a tal de “Linha Temporal Sagrada”. Na trama de Loki, isso fica atribuído aos Guardiões do Tempo, tríade misteriosa que nem mesmo nos quadrinhos é explicada com detalhes.
Enquanto esteve no enredo, Kang, o Conquistador, manipulava a continuidade de forma arbitrária, destruindo milhares de realidades alternativas e de seres para “manter a ordem” no que ele acreditava ser o ideal.
Loki mostrou a real natureza caótica do Multiverso Marvel, com as infinitas linhas temporais e realidades paralelas pipocando de todos os cantos. Isso é muito interessante, porque abre muitas possibilidades e torna o MCU mais perigoso… e divertido. E, claro, caberá aos Maiores Heróis da Terra manter a coesão de nosso universo após o reboot de Vingadores: Guerras Secretas.
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