À medida que a Inteligência Artificial se torna o novo motor da transformação digital, as empresas estão redescobrindo os limites das arquiteturas tradicionais de integração. Uma pesquisa conduzida pela Salesforce revela que apenas 28% das aplicações, em média, estão integradas entre si, com 95% dos líderes de TI relatando problemas de integração que dificultam a adoção da IA. A simples automação de processos, embora eficaz no passado, não atende mais às exigências de um mercado em tempo real, onde os clientes esperam respostas personalizadas, imediatas e inteligentes.
Mais do que uma tendência, essa abordagem representa uma evolução da lógica de sistemas distribuídos. Ela combina APIs modulares com a agilidade e escalabilidade de soluções iPaaS, criando o ambiente ideal para que agentes baseados em IA operem com autonomia e inteligência. Segundo o Fortune Business Insights, o mercado global de iPaaS foi avaliado em US$ 10,7 bilhões em 2023 e deve crescer para US$ 78,2 bilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual (CAGR) de 25,3%.
As APIs expõem capacidades específicas dos sistemas, enquanto o iPaaS atua como uma camada de intermediação e orquestração, essencial para manter a coesão e a resiliência em ambientes críticos. De acordo com o Relatório sobre o Estado da Integração SaaS, 63% das empresas investem em integração para melhorar a retenção de clientes. Destas, 80% desenvolvem integrações internamente, 29% utilizam iPaaS incorporado, 24% adotam APIs unificadas e 21% recorrem a parceiros terceirizados. A crescente complexidade dos ambientes de TI torna indispensável essa conectividade contínua entre aplicações e sistemas.
Em setores como telecomunicações, saúde, finanças ou logística, onde falhas de integração podem gerar prejuízos severos, o iPaaS vai muito além da conectividade básica. Ele oferece visibilidade, monitoramento, retry automático, buffering, fallback e roteamento inteligente. Atua como um escudo operacional, garantindo que a comunicação entre sistemas, dados e agentes cognitivos ocorra com alta disponibilidade, segurança e consistência, mesmo diante de instabilidades.
Outro componente-chave dessa arquitetura é o MCP (Model Context Protocol), mecanismo semântico que permite a um agente navegar e manter coerência em diferentes contextos operacionais. Esses contextos incluem histórico do cliente, regras de negócio, condições técnicas da rede ou objetivos estratégicos da empresa. Ao manter essas informações organizadas e acessíveis, o MCP permite que decisões sejam não apenas precisas, mas também auditáveis, explicáveis e alinhadas com o momento atual do negócio.
Imagine, por exemplo, uma grande operadora de telecomunicações que lida diariamente com milhões de interações e variáveis técnicas. Com uma arquitetura cognitiva sustentada por APIs bem estruturadas e uma plataforma iPaaS robusta, ela pode empregar agentes inteligentes distribuídos: um monitora a qualidade da rede em tempo real, outro acompanha o comportamento do cliente, e um terceiro ajusta planos e ofertas conforme padrões de uso.
Ao detectar uma degradação de serviço, o agente de rede atualiza o contexto técnico, imediatamente acessado, via iPaaS, por um agente de atendimento, que adapta sua resposta com empatia e precisão. Simultaneamente, o agente comercial antecipa uma ação de retenção com uma oferta personalizada. Essa sincronia é possível porque todos os agentes acessam o mesmo contexto vivo, mantido pelo MCP, e se comunicam por meio de protocolos A2A (agent-to-agent) habilitados por APIs e governados pelo iPaaS. Cada agente atua com autonomia, mas dentro de uma estratégia unificada.
A beleza da integração cognitiva está na orquestração fluida e inteligente. APIs garantem sistemas acessíveis e interoperáveis; o iPaaS viabiliza a composição dinâmica com governança, rastreabilidade e segurança embutidas. O que antes era um cenário fragmentado e caótico, torna-se um ecossistema coordenado, ágil e responsivo. A infraestrutura deixa de ser apenas um suporte e passa a pensar junto com o negócio.
Empresas que investem agora em integração cognitiva, com foco em resiliência operacional, APIs bem definidas e iPaaS como camada estratégica, não apenas constroem uma base técnica robusta, mas criam um diferencial competitivo duradouro. Estão conectando sistemas, sim — mas, acima de tudo, estão capacitando decisões mais rápidas, experiências mais relevantes e operações muito mais responsivas.
Além do impacto operacional, a integração cognitiva redefine a maneira como os negócios se relacionam com o ecossistema. Em um mercado volátil e interconectado, a capacidade de reagir e se adaptar em tempo real representa um ativo estratégico. APIs implementadas com segurança e um iPaaS com governança robusta, aliados ao MCP, criam uma camada ativa de inteligência contextual que rompe silos organizacionais e potencializa a colaboração.
O que antes exigia semanas de desenvolvimento técnico agora pode ser feito em minutos, por meio de prompts de intenção. Essa nova camada de orquestração inteligente democratiza o acesso à automação, permitindo que áreas de negócio atuem com autonomia, velocidade e segurança, sem abrir mão de controle, visibilidade e resiliência.
À medida que as organizações evoluem para plataformas cognitivas, a integração, agora visível, inteligente e antifrágil, torna-se uma fonte ativa de vantagem adaptativa. Não se trata apenas de responder ao futuro, mas de moldá-lo continuamente, com agentes que pensam, aprendem e decidem com e para o negócio.
Tony Tascino, CTO da Engineering Brasil.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais