Perguntas do século 21: quem não pensa duas vezes antes de inserir o CPF em um formulário inédito ou não sente um desconforto – ainda que ligeiro – ao preencher automaticamente um formulário a partir de dados armazenados online?
Se o mundo já estava cada vez mais digital, 2024 só acelerou esse movimento. No setor de seguros, essa digitalização tem sido acompanhada de avanços importantes: contratos sendo fechados via app, sinistros processados com poucos cliques e segurados que hoje resolvem tudo direto do celular. Mas essa transformação, como toda evolução tecnológica, vem acompanhada de um desafio igualmente complexo: a cibersegurança.
Em um mercado como o de seguros – que lida com dados sensíveis como CPF, dados bancários, localização de veículos, imagens de sinistros e documentos pessoais -, proteger essas informações é mais do que uma responsabilidade: é uma obrigação estratégica, legal e reputacional.
Ciberataques em alta, prejuízos também
O cenário não é animador. Em 2025, os crimes cibernéticos devem causar um prejuízo global de US$ 12 trilhões, segundo dados apresentados em um webinar da CNseg em parceria com a FenSeg. No Brasil, os ataques cresceram, com destaque para os casos de ransomware – é um tipo de sequestro, por meio do qual os dados são sequestrados e só liberados mediante pagamento.
No setor de seguros automotivos digitais, por exemplo, nossa indústria já identificou tentativas de fraude com uso de documentos falsos, manipulação de imagens, adulteração de sensores IoT veiculares e até ataques à cadeia de fornecedores, como despachantes ou oficinas conveniadas. São estratégias cada vez mais sofisticadas – e de índoles questionáveis – de quem tenta burlar o sistema.
Responsabilidade, regulamentação e reputação
Com a vigência da LGPD, as seguradoras têm hoje responsabilidade legal sobre os dados que armazenam e processam. Vazamentos ou falhas de segurança podem gerar sanções, processos e multas. Mas os riscos vão além do financeiro: envolvem também a confiança do cliente – um ativo que leva anos para ser conquistado e pode se perder em um clique.
Nesse contexto, vejo o papel das seguradoras se ampliando. Não somos apenas prestadores de serviço; somos agentes reguladores indiretos da segurança digital no ecossistema em que atuamos. Desde o corretor até o app de vistoria, todos precisam estar alinhados a boas práticas de segurança da informação.
Tecnologia como aliada da proteção
Felizmente, temos bons aliados nessa jornada. A adoção de tecnologias como autenticação biométrica, criptografia avançada, ambientes seguros em nuvem e análise de comportamento de usuários têm sido fundamentais para blindar sistemas e antecipar tentativas de fraude.
O seguro cibernético vem se consolidando no Brasil. Embora o mercado ainda esteja em amadurecimento, ele oferece coberturas relevantes, como resposta a incidentes, responsabilidade civil e prejuízos diretos ao segurado. Não se trata apenas de reembolsar perdas: as apólices oferecem suporte técnico, jurídico, operacional e até de gestão de crise.
Rumo a uma cultura de resiliência digital
É hora de integrar de forma definitiva a resiliência cibernética à gestão de riscos do setor. Mais do que reagir a ataques, precisamos prevenir – e isso passa por conscientização interna, qualificação de parceiros e atualização constante dos produtos oferecidos.
Pode até parecer clichê ou lugar-comum, mas reforço continuamente que proteger dados é proteger pessoas. E no setor de seguros, isso ganha um peso ainda maior: estamos falando de confiança. Portanto, a segurança digital não é um diferencial competitivo – é um compromisso inegociável.
Reinaldo Aguimar, COO e cofundador da OON Seguradora.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais