Estamos à beira de uma nova era na gestão empresarial. Não se trata apenas de mais um ciclo de automação ou de uma evolução dos assistentes virtuais, o que está emergindo é uma nova classe de força de trabalho digital, constituída por agentes de IA autônomos. Esses sistemas são capazes de perceber contextos, tomar decisões, executar tarefas complexas e, sobretudo, aprender com os próprios resultados. Esta é uma revolução silenciosa e profunda que começa a redesenhar a forma como as empresas operam.
Esses agentes não são apenas softwares, eles atuam com propósito, em fluxo contínuo, coordenando dados, decisões e execuções em escala. Os chamados AI Agentics são distintos de sistemas baseados em regras ou modelos generativos. Eles não esperam comandos, agem com base em metas configuradas, otimizando processos e executando sequências de tarefas inteiras, como acompanhar de perto dados de saúde de um paciente, antecipar problemas logísticos ou orquestrar múltiplas decisões financeiras. E, por isso, precisam ser gerenciados, alocados e avaliados como qualquer outro recurso organizacional estratégico.
A transformação da IA em “força de trabalho” se dá por sua capacidade de operar com proatividade e autonomia. Com isso, o papel desses agentes muda de ferramentas para operadores cognitivos. Eles assumem especializações, interagem com outros agentes ou humanos, coordenam atividades e ajustam estratégias em tempo real. São, essencialmente, novos membros da organização, só que digitais.
Assim como a gestão de pessoas passou a incluir métodos para recrutamento, performance, feedback, bem-estar e cultura, a gestão de agentes exige uma nova arquitetura de liderança e operação. É preciso trabalhar os agentes com uma alocação inteligente olhando para função, contexto e grau de autonomia. Criar indicadores de desempenho objetivos e contínuos é crucial para medir a taxa de sucesso, o grau de intervenção humana e a eficiência por tarefa. Vale destacar também a importância de promover a orquestração entre humanos e agentes com cadeias claras de responsabilidade, interoperabilidade e alinhamento com os objetivos da empresa. Por último, mas não menos importante, vem a cultura do desenvolvimento constante por meio de ciclos de reconfiguração, retreinamento e adaptação estratégica. Essa abordagem aproxima a gestão de agentes de ativos operacionais e da lógica de DevOps, mas aplicada ao trabalho do conhecimento.
Tal como Adam Smith observou nos primórdios da revolução industrial, a especialização permite eficiência, aprendizado e inovação. Agora, essa lógica retorna em versão digital: agentes podem ser criados com funções altamente granulares, como responder clientes, monitorar sensores industriais ou analisar relatórios jurídicos. E o mais importante: podem ser instanciados em escala, em segundos. Não se trata de substituir humanos, mas de criar uma divisão de trabalho colaborativa entre profissionais e agentes. Em vez de sobrecarregar talentos com tarefas administrativas ou operacionais, eles passam a liderar e supervisionar times híbridos.
Empresas que compreendem essa nova força de trabalho estão criando organogramas invisíveis, compostos por equipes de agentes. Não basta mais apenas saber quantos analistas, desenvolvedores ou vendedores há, é preciso saber quantos agentes atuam em suporte, quantos em automação de vendas e quantos como copilotos operacionais. Isso exige novos papéis como designers de workflows autônomos, gerentes de performance de agentes, curadores de contexto e coordenadores de times híbridos. A McKinsey já chama essa nova camada de orquestração de “superagência”, um sistema em que múltiplos agentes cooperam para amplificar a capacidade humana. O que era automação de tarefas vira automação de competências.
Essa força de trabalho agentic é escalável, replicável e programável, mas como qualquer time de alto desempenho, exige estrutura, contexto e liderança. As companhias que enxergarem essa realidade antes das demais, ganharão em produtividade, capacidade estratégica, adaptabilidade e diferencial competitivo. Assim como o RH transformou as empresas no século XX, o gerenciamento de agentes digitais será o eixo de transformação do século XXI. O gestor do futuro não será apenas um líder de pessoas, mas um orquestrador de recursos humanos e cognitivos digitais, em harmonia.
Anderson Paulucci, CDO e co-fundador da triggo.ai.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais