A guerra comercial entre Estados Unidos e China, que se intensifica ano após ano, vem remodelando o mapa global da indústria de tecnologia. E, nesse cenário de tensão e reposicionamento, surgem oportunidades raras — especialmente para países como o Brasil, que historicamente ficaram à margem da disputa entre gigantes. Agora, o jogo pode virar.
No mercado de sistemas de transporte inteligente (ITS), a disputa ganha contornos ainda mais estratégicos. O bloqueio a empresas chinesas pelos EUA e seus aliados abre espaços que estavam inacessíveis até pouco tempo atrás. Onde antes havia um domínio absoluto do “Made in China”, hoje vemos uma abertura para fornecedores alternativos — e é aí que o Brasil pode, e deve, entrar com força.
Nosso país tem capacidade tecnológica compatível com os principais players globais. Contamos com um parque industrial maduro, mão de obra qualificada e, mais importante, conhecimento profundo das exigências técnicas e de privacidade dos mercados ocidentais — tema que sempre foi um entrave para a penetração chinesa em países como os EUA e membros da União Europeia.
A diversidade de padrões nos EUA, como o caso das placas de trânsito que variam de estado para estado (e até incluem versões customizáveis), exige inteligência de software, flexibilidade e suporte próximo. Não é apenas sobre hardware, é sobre entender o ecossistema local. E nisso, empresas brasileiras com visão global podem se destacar.
Já produzimos com qualidade. Podemos competir em custo. Temos estrutura logística facilitada por acordos regionais e laços históricos com o Ocidente. Com um esforço de marca bem direcionado e apoio estratégico de nossos distribuidores internacionais, temos tudo para ocupar o espaço deixado pelas chinesas. A guerra comercial bagunçou a cadeia global de suprimentos e criou uma janela de oportunidade — o tipo de lacuna que, quando bem aproveitada, pode elevar uma empresa de médio porte ao protagonismo mundial.
Mais do que vender lenços para quem está chorando, o Brasil pode se posicionar como fabricante de soluções completas, confiáveis e estrategicamente neutras. Para isso, é necessário investimento em branding, expansão de canais de distribuição, adaptação às exigências internacionais e, sobretudo, visão de longo prazo. A chance está posta. A pergunta é: vamos agarrá-la ou ver outro país fazer isso em nosso lugar?
Alexandre Krzyzanovski, Diretor de Engenharia da Pumatronix.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais