A adoção da inteligência artificial (IA) pelas lideranças já não é mais uma questão de se, mas de como. Em um cenário onde a velocidade das decisões pode definir o sucesso ou o fracasso de uma estratégia, contar com o suporte de tecnologias que aumentam nossa capacidade cognitiva e operacional deixou de ser diferencial e passou a ser condição básica de competitividade.
Na minha experiência como CEO, passei a incorporar a IA generativa no dia a dia com um propósito claro: tornar a rotina mais inteligente, não apenas mais rápida. Em vez de começar tarefas do zero, uso a IA como ponto de partida para documentos estratégicos, comunicações importantes, apresentações, revisões, aprimoramento de materiais, resumos e até análises preliminares de relatórios. Esse tipo de automação libera uma das moedas mais escassas para quem ocupa posições de liderança: o tempo. Com menos horas dedicadas às atividades operacionais, posso investir mais energia em decisões de negócios de médio e longo prazo, no desenvolvimento de pessoas e no alinhamento de cultura e estratégia. No meu dia a dia, a IA se tornou uma espécie de consultor sob demanda que está sempre acessível, é ágil e se mantém em constante evolução.
Uma prática que considero bastante útil é utilizar a inteligência artificial para analisar temas sob diferentes pontos de vista. Para isso, costumo pedir que a IA “assuma o papel” de um especialista reconhecido no assunto em questão e apresente uma análise a partir da sua ótica. Em seguida, solicito um contraponto de outro especialista com visão distinta. Essa abordagem me permite fomentar discussões ricas, ampliando minha visão sobre o tema, ao levantar possibilidades e riscos antes de tomar uma decisão.
Um avanço relevante está no uso de modelos personalizados de IA. Ao treinar a ferramenta com dados internos da empresa, como documentos institucionais, políticas, relatórios e apresentações, cria-se um assistente corporativo que entende o contexto do negócio, adota a linguagem da companhia e responde com maior precisão. A diferença em relação às plataformas genéricas é evidente, já que o suporte deixa de ser técnico e passa a ser estratégico. Com isso, o executivo não substitui sua experiência ou julgamento, mas ganha velocidade para chegar mais rápido à parte que realmente exige discernimento humano: a tomada de decisão.
É fundamental que todos os líderes tenham em mente que a inteligência artificial não resolve tudo sozinha, e que o verdadeiro valor está na curadoria da ferramenta. O gestor é quem define quais usos são estratégicos, onde a tecnologia pode agregar e quando o fator humano deve prevalecer. Saber em que lugar a IA pode contribuir e em que momento o olhar humano é insubstituível, é parte da maturidade digital que se espera de quem conduz times e empresas atualmente. Por isso, implementar esta tecnologia exige não só uma questão de escolher boas ferramentas, mas uma mudança de mentalidade, uma nova forma de trabalhar, experimentar, revisar e se aprimorar continuamente.
Adotar inteligência artificial na rotina executiva não demanda grandes saltos, o início pode (e deve) ser pontual e focado. A cada uso, os benefícios se acumulam e criam uma nova forma de operar, mais leve, estratégica e menos reativa. A IA, quando bem direcionada, eleva o papel da liderança, permitindo que ela se concentre no que nenhuma máquina será capaz de replicar.
Dessa forma, meu conselho para outros líderes é: comecem aos poucos, mas com clareza. Escolha um processo que é realizado com frequência e que consome tempo, pode ser a elaboração de propostas ou o planejamento de reuniões. Ao usar a IA para acelerar as etapas iniciais, o ganho será evidente. E, quando o uso se torna hábito, a transformação acontece de forma natural.
No fim do dia, a Inteligência Artificial não substitui o senso crítico do líder, ela o amplia e permite escalar “especialistas virtuais”, com perfis altamente específicos, promovendo brainstorms eficientes e com foco estratégico. Executivos que entendem essa lógica e dominam a IA como aliada operam com mais agilidade, mais clareza e mais tempo para focar em inovação disruptiva, empatia, construção de relacionamentos e uma liderança verdadeiramente inspiradora.
Os líderes do futuro não serão definidos pelo controle, mas pela habilidade de orquestrar inteligências, humanas e artificiais, para gerar valor de maneira inovadora nos resultados da gestão.
Daves Souza, CEO da SysMap Solutions.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais