Imagine tentar otimizar, ao mesmo tempo, milhares de rotas de entrega, prever a demanda de produtos diante de cenários incertos e ainda lidar com interrupções inesperadas na logística global. Esse é o desafio enfrentado diariamente pelas cadeias de suprimentos modernas. E é justamente onde a computação quântica desponta como uma possível aliada.
Com uma arquitetura que explora a superposição e o emaranhamento de estados quânticos, a computação quântica tem o potencial de explorar soluções de forma paralela e mais eficiente, acelerando cálculos que levariam anos em sistemas clássicos. Isso é especialmente relevante para problemas de otimização combinatória, comuns em supply chain.
Empresas como a IBM e a DHL já estão investigando aplicações quânticas para prever demanda, definir o melhor posicionamento de centros de distribuição e enfrentar o clássico problema do caixeiro viajante, um desafio matemático que cresce exponencialmente em complexidade conforme mais variáveis entram na equação.
Mas os desafios são muitos. Os computadores quânticos ainda sofrem com instabilidades, erros de decoerência e limitação no número de qubits funcionais. Além disso, é raro encontrar profissionais que compreendam tanto os fundamentos da computação quântica quanto as especificidades operacionais da logística. Essa lacuna dificulta a tradução dos desafios do setor em problemas computacionais bem formulados para esse novo paradigma.
Ainda assim, alternativas promissoras estão no horizonte. De um lado, temos os algoritmos híbridos, que combinam elementos clássicos e quânticos para resolver partes específicas de um problema. De outro, surgem os chamados algoritmos “quantum-inspired”, que se baseiam em princípios da física quântica para criar soluções inovadoras que funcionam em computadores tradicionais. Ambos os caminhos têm mostrado resultados interessantes em simulações e pilotos restritos.
Mais do que uma corrida tecnológica, trata-se de uma mudança de mentalidade. Empresas que começam agora a entender os fundamentos da computação quântica, formar times interdisciplinares e testar soluções em ambientes controlados estarão mais preparadas quando a tecnologia atingir maturidade.
A cadeia de suprimentos é uma das engrenagens mais críticas da economia global. Otimizá-la não é apenas uma questão de eficiência: é também garantir resiliência, sustentabilidade e vantagem competitiva. A computação quântica pode ser a chave para isso, desde que se entenda claramente o que ela pode (e ainda não pode) resolver.
Suzana Araújo, especialista em tecnologia, inovação e quantum e é CEO da Techtalksa. Atua há mais de 20 anos com gestão em TI, transformação digital e inteligência artificial. É empreendedora, professora e criadora de conteúdo sobre o impacto da tecnologia na sociedade.
Fontes:
- Quantum computing for supply chain optimization, Nature Reviews Physics, 2024.
- Exploring the potential for quantum advantage in mathematical optimization, IBM Quantum Blog, 2024.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais