E se as máquinas pudessem pensar? Alan Turing lançou essa pergunta que deu origem à inteligência artificial. Ao transformar um dilema filosófico em desafio técnico, Turing mostra como grandes avanços nascem das perguntas certas. No mundo dos negócios, especialmente o mercado tech, a lógica é semelhante: é preciso reagir rápido às tendências, entender o cenário e questionar com profundidade.
O caso do Yahoo ilustra bem o custo da falta de clareza estratégica. Fundado em 1994, liderou a internet no final dos anos 1990, mas não acompanhou as mudanças do mercado digital. Em 2002, recusou comprar o Google por US$ 1 bilhão. Em 2006, perdeu o Facebook pelo mesmo valor. Ao tentar compensar, adquiriu várias empresas sem estratégia integrada. Resultado: perdeu relevância e, em 2016, foi vendida por US$ 4,8 bilhões — uma queda brutal frente aos US$ 125 bilhões de valor em 2000.
Mais do que decisões ruins isoladas, a queda do Yahoo foi fruto de sucessivas mudanças de direção (sete CEOs em dez anos) e da ausência de questionamentos-chave, como:
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Qual é nossa verdadeira proposta de valor?
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Nossas apostas refletem vantagem competitiva ou apenas reação?
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Estamos ouvindo nossos usuários?
Talvez a proposta de valor da empresa tenha mudado — e ninguém percebeu. Faltou timing para adaptar a estratégia e coragem para rever hipóteses com agilidade.
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Mudar de hipótese é inteligência estratégica
Steve Jobs também errou no timing. Ao lançar o Macintosh, acreditava que a interface gráfica revolucionária a computação pessoal. Mas o mercado não estava pronto. Mais tarde, com a NeXT, repetiu a aposta visionária antes da hora. Essas experiências ensinaram uma lição valiosa: visão sem validação compromete resultados.
Quando voltou à Apple em 1997, Jobs uniu ousadia e pragmatismo. Simplificou o portfólio, priorizou usabilidade e reposicionou a empresa. O sucesso do iMac, iPod e iPhone provou que adaptar hipóteses sem abandonar o propósito é uma força estratégica — e não uma fraqueza.
O mundo dos negócios está repleto de líderes que aprendem a ajustar a rota sem perder o rumo. Outro exemplo marcante é o da Netflix. No início dos anos 2000, a empresa operava como um serviço de aluguel de DVDs pelo correio. Ao perceber o crescimento da banda larga e a mudança no comportamento do consumidor, a Netflix mudou radicalmente sua hipótese de negócio, apostando no streaming quando isso ainda parecia arriscado e transformou completamente a indústria do entretenimento.
Mas a empresa não parou por aí. Após dominar o streaming, passou a investir pesadamente na produção de conteúdo original. No início, foi criticada por abandonar o modelo de curadoria de terceiros. Mas a aposta em dados, aprendizado contínuo e ciclos rápidos de feedback permitiu criar sucessos globais como House of Cards e Stranger Things. A Netflix não apenas mudou de hipótese, a empresa construiu uma cultura onde mudar é parte do processo.
O episódio mostra como decisões rígidas podem ser revistas frente a riscos sistêmicos, reforçando que líderes (políticos ou corporativos) devem saber reformular hipóteses sem perder de vista o objetivo central.
Ferramentas que ajudam a criar rotas flexíveis
Organizações maduras, como vimos nos exemplos acima, criam espaços para testar hipóteses com rapidez e corrigir rumos com clareza. Ferramentas como aprendizado validado (do Lean Startup) ajudam a transformar suposições em dados úteis. MVPs substituem grandes apostas, e decisões se baseiam no que realmente funciona.
Outro pilar são os ciclos de feedback entre times de produto, engenharia, marketing e atendimento. Quando dados de uso e voz do cliente circulam com fluidez, perguntas como “Essa hipótese ainda faz sentido?” deixam de ser tabu e se tornam práticas saudáveis.
Dashboards atualizados, rituais de discovery, comunicação assíncrona e métodos de priorização por valor ajudam a manter a flexibilidade com foco. Líderes adaptáveis combinam visão com escuta ativa e guiam suas equipes com clareza mesmo em rotas incertas.
Caio Laurino, fundador e CIO da Maitha.
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Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais