Gramado (RS) – O painel “Do Zero ao Exit”, realizado na quarta-feira (4), mediado pelo Canaltech na Gramado Summit, na Serra gaúcha, trouxe a trajetória de Rodrigo Miranda e Tomás Scopel, empreendedores capixabas que transformaram ideias inovadoras em negócios de sucesso. Fundadores de startups como Zaitt, Shipp e Packk, adquiridas por gigantes como Sapore e Americanas S.A., a dupla compartilhou os desafios e aprendizados diante de transformações tecnológicas de uma parceria de uma década.
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Formados juntos em Engenharia, os sócios revelaram que o caminho do empreendedorismo não foi uma escolha óbvia. Após tentativas frustradas de ingressar em grandes empresas, como a Ambev, o “empurrão” veio da necessidade. “Sempre digo que eu não nasci com uma veia empreendedora, a gente foi empurrado para isso”, confessou Rodrigo. Eles explicaram que a ideia de um delivery de bebidas nasceu apenas como uma forma de ganhar dinheiro.
Tomás complementou, lembrando que no início, eles sequer se viam como “startupeiros”. “A gente não tinha a menor ideia do que a gente estava fazendo”, disse ele. A transformação começou com a chegada de um mentor, um dos fundadores do PicPay, que os fez acreditar no potencial da tecnologia e no jogo de captar investimentos e vender empresas. “Ele nos orientou para isso, mas até então era 100% um negócio tradicional”, afirmou.
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Amizade e negócios: a necessidade de acordos claros
Empreender com amigos é frequentemente visto como arriscado, mas a parceria da dupla, que se estende por 10 anos e cinco CNPJs, é um exemplo de sucesso. O segredo? Acordos e combinados bem definidos, segundo os empresários.
“Exige uma maturidade e necessidade de você saber sobre o negócio que numericamente, quantitativamente”, ponderou.
A chave para a longevidade da sociedade, segundo Rodrigo, é a capacidade de ter “conversas duras, difíceis” e saber que elas são tão importantes quanto as boas.
O empresário também ressaltou a importância da complementaridade e da separação de “chapéus”: o de sócio e o de executivo.
“Quanto mais cedo a gente absorve isso, acho que facilita esse trabalho, não só com quem é amigo”, explicou, enfatizando que essa clareza é fundamental para qualquer parceria de negócios.
Zaitt: do delivery de bebidas à primeira loja autônoma da América Latina
A Zaitt não nasceu como uma loja autônoma. Em 2016, a empresa começou como um delivery de bebidas. Rodrigo Miranda, cofundador da Zaitt, e seus sócios lançaram a ideia de enfrentar de maneira disruptiva os desafios mais pesados que o varejo físico impõe ao empreendedor. Como uma loja de conveniência, a Zaitt focou em “produtos de alimentação mais rápida, como chocolates, salgadinhos, massas congeladas e bebidas”, uma tecnologia mais aplicada em estabelecimentos de pequeno porte.
Apesar de transformar o seu negócio em uma loja física, os empreendedores não desistiram do modelo de delivery. Assim, criaram uma nova empresa em 2017: a Shipp. Com uma proposta diferente, a startup não tinha como objetivo entregar apenas bebidas, mas ser um “aplicativo de delivery de entregas de tudo”. Nesse modelo de negócio, as lojas, cantinas e bares cadastram os produtos no aplicativo. A partir de ferramentas de geolocalização, esses itens ficam disponíveis para os clientes. Caso tivesse algum pedido, a Shipp acionava um dos seus entregadores para atender o cliente.

A virada de chave para a Zaitt foi a implementação da tecnologia para viabilizar lojas abertas 24 horas sem a necessidade de funcionários o tempo todo, dando origem à primeira loja autônoma da América Latina. Essa inovação, especialmente o lançamento em São Paulo em parceria com o Carrefour em 2019, gerou uma enorme visibilidade na mídia. Rodrigo destacou que o uso estratégico do PR para atrair investidores e abrir portas. “Aquele era o momento, cara, que as pessoas sabiam o que era a Zaitt”, pontuou.
O ponto de virada: a entrega do PicPay que mudou tudo
Uma história curiosa marcou a trajetória da dupla: a entrega de um pedido de delivery a um cliente recorrente que pedia sempre às sextas-feiras. A pessoa era ninguém menos que Diogo Roberte, um dos fundadores do PicPay. Rodrigo e Tomás, que por mais de um ano foram os próprios entregadores, toparam com Diogo na porta, e mesmo com um negócio incipiente, ele se ofereceu para ajudar.
“Ele nos fez acreditar muito que era possível”, disse Tomás, sobre o mentor que transformou a visão deles de um negócio tradicional para o universo das startups e exits. Rodrigo ressaltou o aprendizado de “criar referência do que é ter uma empresa pobre”, valorizando cada detalhe e recurso.
A importância de relacionamentos e mentores
A importância dos relacionamentos e mentores foi um ponto de destaque na conversa. Rodrigo disse que o maior ativo que se pode construir é ser “recebido” pelas pessoas. Ele atribui grande parte do sucesso à sorte, que, para ele, é a aleatoriedade que aparece quando se trabalha muito. O encontro com Diogo Roberte, a conexão que levou à venda para as Americanas, são exemplos de como as conexões foram transformadoras.
Rodrigo, que também atua como mentor, fez questão de compartilhar o agradecimento às “mentorias genuínas” que eles receberam nos momentos mais difíceis, com pessoas que se preocupavam com seu bem-estar pessoal. A contrapartida que eles deram foi a “velocidade de execução”: “Você nos falar uma coisa que faz sentido, amanhã vai estar rodando”, completa.
O primeiro e o segundo Exit: lições e papéis divididos
O primeiro exit, a venda da Shipp e Packk para as Americanas, veio de uma conexão que foi mantida por anos. O processo de M&A durou menos de um ano e exigiu uma divisão clara de papéis: Rodrigo cuidava da “porta para fora” (relacionamento com compradores, investidores, mídia), enquanto Tomás gerenciava a “porta para dentro” (operação). A confiança mútua foi fundamental. “A confiança ela precede a gestão”, afirmou Rodrigo.
O segundo exit, a revenda das empresas para a Americanas S.A., com a Shipp se tornando Americanas Delivery, foi mais tranquilo, segundo Tomás, que assumiu posteriormente como CEO da Americanas Delivery. Essa experiência aprofundou a expertise da dupla em M&A e gestão pós-aquisição.
VPx Company: ajudando outros empreendedores
Após suas jornadas bem-sucedidas de exits, Tomás deixou a Americanas e, junto com Rodrigo, fundou a VPx Company. A consultoria estratégica tem como missão impulsionar médias empresas, ajudando na estratégia, gestão e M&A. Em apenas dois anos, a VPx já atendeu mais de 80 negócios, refletindo a demanda por essa expertise prática.
“É muito legal estar desse outro lado agora”, disse Tomás, sobre o papel de mentores e facilitadores para outros empreendedores. Eles utilizam sua vasta experiência para preparar empresas para a venda e conduzir o processo de M&A, oferecendo um guia prático e realista.
O negócio inusitado: um clube de futebol
Em um desvio inusitado, a dupla também se aventurou no mundo do futebol, com Rodrigo assumindo a presidência do conselho do Rio Branco SAF. Esse negócio, embora diferente, reforça a versatilidade e a paixão dos empreendedores por novos desafios.
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