A adoção da Inteligência Artificial nas empresas brasileiras está crescendo, mas ainda enfrenta desafios importantes. É o que revela um estudo da IDC apresentado durante o evento “AMCHAM – IA e a Transformação Empresarial: Uma Nova Era – Powered by Intel”, realizado em São Paulo. O levantamento traz um panorama sobre como companhias do Brasil e de outros países da América Latina estão aplicando IA, quais são as principais dificuldades e onde estão investindo.
- O futuro da inteligência artificial é a ‘IA geral’, afirma gerente da Meta
- A vez dos SLMs: pequenos gigantes da inteligência artificial
- 8 golpes com inteligência artificial para você ficar atento
De acordo com a pesquisa, os principais motivos que levam as empresas a investir em IA são aumento da agilidade nos negócios, ganho de produtividade e aceleração da inovação. As empresas enxergam a tecnologia como uma aliada não só para otimizar processos, mas também para criar novas oportunidades e gerar mais valor.
IA generativa lidera, mas não substitui os modelos tradicionais
O levantamento mostra que 58,7% dos projetos atuais no Brasil utilizam IA generativa, modelos capazes de criar textos, códigos, imagens, vídeos e outros conteúdos a partir de grandes volumes de dados. É a tecnologia por trás de soluções como chatbots avançados, assistentes de texto e geradores de imagens.
–
Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
–
Já 55,3% das empresas continuam usando IA tradicional, baseada em machine learning e deep learning, com foco em análises preditivas e interpretativas. Além disso, 15% adotam agentes autônomos, softwares que, a partir de IA e modelos de linguagem, são capazes de tomar decisões e agir de forma independente, simulando interações humanas.
Apesar do crescimento da IA generativa, Pietro Delai, Diretor Enterprise para a América Latina no IDC, ressalta que ela não substitui os modelos tradicionais. “A IA generativa tem limites. Existem tarefas, como análises preditivas e operacionais, que continuam dependendo da IA tradicional. Não é uma questão de qual vence, mas de coexistência. Cada modelo tem seu espaço e sua função dentro das empresas”, afirma.
Custos, governança e falta de preparo
O levantamento também identificou os principais fatores que limitam a adoção da IA no Brasil:
- 34% das empresas citam os custos como principal barreira
- 33% têm preocupação com propriedade intelectual
- 26% apontam falta de conhecimento ou mão de obra especializada
- 26% estão preocupadas com viés nos modelos e com a acurácia dos resultados
Uma das soluções apontadas para minimizar riscos, proteger dados sensíveis e controlar custos é investir em modelos como o RAG (Retrieval-Augmented Generation). Segundo Pietro, essa arquitetura permite que as empresas mantenham seus dados sensíveis protegidos localmente, sem que precisem ser enviados para modelos externos. “Você não expõe a base inteira, mas permite que a IA acesse informações específicas para gerar as respostas. Isso ajuda tanto na segurança quanto na redução dos custos de operação”, explica.
Edge computing cresce para acelerar IA
Outro dado importante do estudo é o aumento dos investimentos das empresas brasileiras em Edge Computing, uma estratégia que permite processar dados localmente, sem depender exclusivamente da nuvem. Atualmente, 13,7% dos orçamentos de TI são destinados a edge, com previsão de crescimento para 14,7% nos próximos meses.
O uso do edge é especialmente relevante para setores que precisam de alta disponibilidade ou baixa latência, como varejo, saúde e indústria. “Um supermercado não pode parar se perder a conexão com a nuvem. O mesmo vale para hospitais, onde é fundamental ter acesso imediato às informações, independentemente da conexão com servidores externos”, exemplifica Pietro.
Inteligência Artificial como domínio de líderes
Outro destaque do evento foi a participação do Dr. Melvin Greer, Chief Data Scientist da Intel, que trouxe uma perspectiva inovadora sobre o papel da liderança na adoção da Inteligência Artificial. Segundo ele, “tudo o que você pensou que sabia sobre engenharia, ciência e tecnologia está errado”, referindo-se à transformação provocada pela IA.
“Hoje, nossa conversa é sobre a AI não ser mais o domínio exclusivo da engenharia e tecnologia, mas sim um domínio dos líderes e daqueles que trabalham para transformar suas organizações”, afirmou. Dr. Greer destacou que a Inteligência Artificial é uma ferramenta para todos, e seu sucesso depende do engajamento das lideranças e da cultura organizacional, não apenas das equipes técnicas.
Ele também ressaltou a importância do Brasil como um campo fértil para aprender e aplicar essa nova engenharia, dizendo que teve a oportunidade de viver quatro anos no país e aprender muito sobre educação e inovação.
A visão da Intel: IA é a eletricidade do século 21
Durante o evento, Gisselle Ruiz Lanza, Vice-presidente da Intel na América Latina, reforçou o papel da IA como uma transformação tão profunda quanto foi a eletricidade no passado. “Se a eletricidade transformou todos os setores da sociedade, da indústria à comunicação, a Inteligência Artificial está fazendo o mesmo agora. Ela já está se tornando uma infraestrutura invisível, que automatiza, analisa, toma decisões e aprende junto conosco”, destacou.
Segundo Gisselle, a IA não é apenas uma evolução tecnológica, mas também uma transformação cultural, que exige mudanças nas lideranças e na forma como as organizações operam. “A IA precisa deixar de ser um projeto exclusivo da área de tecnologia. Ela tem que ser entendida como parte da estratégia de negócios. Começa na liderança, mas deve ser democratizada para todas as camadas da empresa.”
Ela também destacou que a experimentação é fundamental no processo de adoção da IA. “A fluência em Inteligência Artificial não virá apenas dos cursos ou treinamentos, mas principalmente da prática, da experimentação e da construção de soluções com responsabilidade e governança. A ética não é opcional, é essencial”, afirmou.
A executiva apresentou ainda os quatro pilares da estratégia da Intel para IA:
- Abertura: garantir que as tecnologias sejam abertas e sem bloqueios
- Escalabilidade: IA aplicada desde PCs até data centers e nuvens, permitindo inovação em todo o portfólio
- Eficiência: foco em oferecer o melhor desempenho por dólar investido
- Segurança: segurança integrada desde o hardware até o ecossistema de software
“Nossa proposta é habilitar a inovação com governança, eficiência e segurança. E estamos juntos, como parceiros, para acompanhar as empresas nesse processo”, concluiu Gisselle.
Otimismo brasileiro: preparo ou ilusão?
Um dado que chamou a atenção dos analistas foi que a maioria das empresas brasileiras se declarou bem ou extremamente preparada para implementar projetos de IA. Esse percentual é semelhante ao de países como Estados Unidos, Canadá e México.
Porém, Pietro faz um alerta. “Foi um número que me surpreendeu. Conversando com executivos, muitos ainda não sabem exatamente por onde começar. Existe sim um avanço, mas também é muito característico do Brasil esse otimismo. Precisamos avaliar com mais cuidado se essa percepção está alinhada com a realidade operacional.”
O estudo deixa claro que a Inteligência Artificial já faz parte do presente das empresas brasileiras, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Custos, acesso aos dados e preparo das equipes seguem como desafios para quem quer acelerar a transformação digital usando IA.
O evento reforçou que, embora a tecnologia esteja disponível, o verdadeiro diferencial está na capacidade das empresas de superar barreiras culturais, definir arquiteturas adequadas e preparar seus times para esse novo cenário. A mensagem final é clara: a IA não é mais apenas uma tecnologia; ela é parte essencial da estratégia dos negócios do presente e do futuro.
Saiba mais:
- Low-code e IA: como as tecnologias estão revolucionando o mercado de TI
- Como a Inteligência Artificial afeta o meio ambiente e o que fazer sobre isso
- Participe da pesquisa: como você consome conteúdo de tecnologia em podcast?
Leia a matéria no Canaltech.
Fonte: Canaltech - Leia mais