A crescente adoção da Inteligência Artificial (IA) pelas empresas está transformando profundamente o mercado de trabalho. O movimento, que já atinge diferentes setores da economia, traz ganhos expressivos de produtividade e eficiência, mas também levanta questões urgentes sobre empregabilidade, qualificação e o papel humano na era digital.
Esse cenário remete a um momento histórico de transição semelhante: a Revolução Industrial. Naquela época, a substituição da mão de obra artesanal por máquinas a vapor gerou temor e resistência. Os chamados “luditas” — trabalhadores que viam seus empregos ameaçados — chegaram a destruir equipamentos em protesto. Hoje, a IA ocupa o papel das máquinas industriais, mas com uma velocidade de adoção jamais vista, e o medo volta a aparecer: será que novas tecnologias vão roubar os empregos humanos?
A história mostra que, apesar de muitas profissões terem desaparecido, outras tantas surgiram. Os empregos não acabaram; transformaram-se. O mesmo cenário se desenha agora. A diferença é que hoje temos acesso a dados, conhecimento e meios para antecipar e planejar essa transição com mais responsabilidade e inclusão.
Empresas que adotam IA de forma estratégica conseguem escalar operações, aumentar sua produtividade e abrir espaço para novas frentes de atuação — o que, por consequência, gera a necessidade de novas funções, cargos mais qualificados e oportunidades que antes não existiam.
De acordo com estudo da Mckinsey, “com a tecnologia podendo automatizar até 30% das atividades em todas as profissões até 2030, os trabalhadores sentem que necessitam mais de competências cognitivas, como pensamento crítico, criatividade e capacidade de tomar decisões, do que de habilidades técnicas — mesmo entre criadores e heavy users.”
Já o estudo da PwC revela que “os setores mais expostos à IA estão registrando um aumento de quase cinco vezes (4,8x) na produtividade do trabalho. Esse aumento pode gerar crescimento econômico, salários mais altos e melhores padrões de vida”.
O desafio, portanto, não está na tecnologia em si, mas na capacidade da sociedade de se adaptar a ela. Governos, empresas e instituições de ensino precisam atuar em conjunto para promover a requalificação da força de trabalho e reduzir o risco de exclusão digital. Logo, é essencial reconhecer que os profissionais do futuro precisarão ir além das competências técnicas.
Segundo dados da Brasscom, as principais habilidades exigidas no Brasil até 2025 estarão fortemente alinhadas a soft skills — com destaque para resiliência, flexibilidade e agilidade (83%), pensamento analítico (70%), liderança e influência social (67%), pensamento criativo (64%) e curiosidade com foco em aprendizado contínuo (63%).
Olhando além, entre 2025 e 2030, habilidades como IA e Big Data (93%), alfabetização tecnológica (69%) e cibersegurança (64%) tendem a crescer em relevância. Portanto, a requalificação profissional não pode se restringir ao ensino de novas tecnologias, mas precisa abraçar uma abordagem mais holística — que valorize competências humanas, estimule a aprendizagem contínua e prepare as pessoas para lidar com a constante transformação do mercado de trabalho.
A tecnologia não pode ser um inimigo ou impeditivo na geração de empregos, pelo contrário, tem que ser a grande aliada para cooperar com o ser humano na supressão de suas limitações, apoiando em serviços meramente autômatos para abrir espaço a geração de trabalho inteligente e sensível apenas aos cérebros humanos.
Por fim, é essencial que a IA seja aplicada com responsabilidade ética. Tecnologias que tomam decisões precisam ser transparentes, auditáveis e livres de vieses que possam reproduzir desigualdades históricas. O futuro do trabalho será moldado por tecnologias cada vez mais inteligentes — mas, para que ele seja verdadeiramente promissor, deve ser orientado por valores profundamente humanos.
Jorge Sellmer, CRO da Objective.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais