Vivemos uma era em que os ciclos de disrupção se tornaram mais curtos que os planos estratégicos das empresas. Aquilo que ontem parecia futuro, hoje é o presente em movimento e o que não se adapta, dissolve. Inovação e transformação digital deixaram de ser iniciativas setoriais para se tornarem, juntas, a espinha dorsal de uma nova ordem empresarial, em que a competitividade está profundamente vinculada à capacidade de operar com inteligência, autonomia e velocidade em todos os níveis do negócio.
O Brasil não é exceção a esse movimento. Pelo contrário: R$ 186,6 bilhões estão sendo direcionados, segundo dados do governo federal, para acelerar a transformação digital da indústria nacional. São recursos aplicados em tecnologias de base, chips, nuvem, robótica, redes e IA, que sustentam o novo paradigma da produtividade. Isso revela mais do que um plano econômico: revela uma virada de chave. O país finalmente reconhece que digitalizar é mais do que informatizar processos, é reconstruir os alicerces da eficiência, da escala e da inteligência estratégica.
Mas a pergunta essencial permanece: por que tantas empresas ainda tratam transformação digital como um projeto periférico?
A resposta está na zona de conforto das lideranças. Segundo uma pesquisa recente da Data-Makers em parceria com a CDN, embora as empresas brasileiras já utilizem inteligência artificial de alguma forma, 77% ainda não têm uma cultura digital estruturada e 62% das lideranças confessam não estar preparadas para liderar essa transformação. Há, portanto, um abismo entre adotar tecnologias e internalizar uma lógica digital.
Transformação digital não é sobre software. É sobre sistemas digitais que conectam dados, decisões e pessoas. É sobre estruturas que aprendem, operam em tempo real, antecipam padrões e respondem com precisão. É sobre permitir que a tecnologia amplifique o julgamento humano, em vez de substituí-lo de forma cega.
Automatizar sem compreender o propósito do processo é apenas acelerar o erro. Digitalizar sem revisar a lógica por trás das operações é perpetuar ineficiências em escala exponencial. Por isso, a verdadeira transformação exige mais do que investimento: exige questionamento profundo, coragem para romper com a herança organizacional e disposição para enfrentar o desconforto que toda mudança real impõe.
Não há como terceirizar esse processo. Ele precisa partir de dentro. Precisa ser desenhado com clareza estratégica, alinhado ao core do negócio e acompanhado de uma cultura organizacional capaz de sustentar ciclos sucessivos de aprendizado, desapego e reinvenção.
A empresa do futuro, que já está nascendo no presente, é aquela que sabe extrair valor de dados, que constrói processos modulares, que se integra em tempo real com seus stakeholders e que tem inteligência para tomar decisões antes mesmo que o mercado perceba a mudança de contexto.
Transformação digital, portanto, não é sobre tecnologia. É sobre tornar-se uma organização viva: sensível ao ambiente, responsiva às mudanças e movida por um propósito claro de gerar valor sustentável em um mundo em constante transição.
Quem ainda vê a inovação como um projeto ou a tecnologia como um acessório estratégico está jogando um jogo antigo com regras novas.
E nesse jogo, o tempo é o ativo mais volátil de todos.
Edson Alves, CEO da Ikatec.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais