Como já dizia o slogan da NFL Brasil, o futebol americano é “cada vez mais nosso” e vem se popularizando de uma forma sem precedentes no país. São Paulo está prestes a sediar sua segunda partida da liga, dessa vez entre Los Angeles Chargers e Kansas City Chiefs – rivalidade clássica da AFC Oeste. Com mais pessoas se interessando pelo esporte, é inevitável que o sistema de revisão de jogadas chame a atenção dos brasileiros.
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Em um país que respira futebol, acompanhar um esporte com um sistema de replays tão profundo e preciso chega a causar um certo estranhamento.
Muitos até questionam a necessidade de uma partida sofrer tantas interrupções – mas no caso do futebol americano, isso não só é importante como também é essencial. A história está aí para provar que, através da tentativa e erro, a NFL conseguiu implementar o melhor sistema de “VAR” de qualquer esporte.
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Quase 50 anos de história
A FIFA começou a implementar o uso do árbitro de vídeo (comumente abreviado para VAR) apenas em 2016, tendo consagrado o sistema oficialmente durante a Copa do Mundo de 2018.
Já no futebol brasileiro, demorou bem mais para vermos a tecnologia chegar ao Brasileirão e demais campeonatos disputados no país.
No caso da NFL, as primeiras tentativas de usar um sistema de vídeo para revisão de jogadas aconteceram em 1978 – há quase 50 anos! De início, os resultados não foram muito satisfatórios, pois a tecnologia da época ainda era um tanto precária.
Passados alguns anos, a liga voltou a tentar implementar a análise de replays em 1985, mas precisou enfrentar muitas críticas e polêmicas para finalmente torná-la obrigatória em 2007.

Nenhum sistema esportivo de revisão está livre de críticas, mas a NFL foi visionária no assunto. Foram necessárias décadas para finalmente aperfeiçoá-lo ao ponto que conhecemos hoje.
“É uma Ferrari dos sistemas de replay” brinca Mark Butterworth, Vice-Presidente do Departamento de Replay da NFL, que conversou com o Canaltech sobre o assunto.
Quais são as regras de revisão da liga?
Em uma partida da NFL, existem sete árbitros em campo e cada um fica responsável por analisar um elemento específico do jogo.
São 11 jogadores para cada lado distribuídos em áreas diferentes da arena; quando a jogada começa, todos se movimentam simultaneamente, então seria confuso para um único árbitro dar conta de tudo isso.
Cada árbitro fica encarregado de uma porção do todo: enquanto um deles está de olho na linha ofensiva e defensiva, outro está prestando atenção somente ao quarterback, enquanto um terceiro está observando a defesa secundária e assim por diante.
Todos eles podem marcar faltas – o que é sinalizado por uma flanela amarela sendo jogada ao campo.
“Nosso sistema é muito robusto. Somos capazes de fazer muitas coisas em tempo real com cada uma das câmeras disponíveis. Há muita comunicação durante cada jogada e assim determinamos as chamadas em campo; quando há algum aspecto revisável, os árbitros podem pedir a ajuda de alguém do departamento de replay” conta Butterworth.
Algumas marcações são revisadas automaticamente pela equipe de replay, como touchdowns, turnovers, falhas dentro das quatro descidas de avanço e qualquer jogada que aconteça dentro dos últimos dois minutos de um período de dois tempos – o que é chamado de “2-minute warning”.
Há também a parcela de marcações que podem ser desafiadas pelos técnicos de cada equipe – exceto faltas de holding, offsides e unnecessary roughness.

“Quando a jogada vai para revisão, o árbitro vai até um monitor em campo e, em alguns casos, nós lhe fornecemos uma análise do que realmente aconteceu. A decisão vem da minha equipe, geralmente em colaboração com um árbitro ou um oficial de replay. A resposta final sempre vem de mim ou do meu time” explica Butterworth.
A central de replays da NFL fica sediada em Manhattan, Nova York. Esse é outro grande diferencial da liga: quem toma as decisões por trás das revisões é um time de especialistas que não está presente no jogo.
A medida de dar o voto final à equipe de replay também é uma forma de não atribuir tanta responsabilidade aos árbitros em campo, que costumam ser alvos fáceis das críticas em marcações questionáveis.
“Em uma típica janela de jogos de uma tarde de domingo, acontecem de nove a dez partidas simultaneamente. Nesse período, temos três pessoas que tomam essas decisões e um supervisor para cada uma, totalizando uma equipe de seis. Cada time tem seu próprio assistente de replay e, para cada grupo de jogos, há um supervisor e outra pessoa para tomar as decisões. Já nos bastidores, temos especialistas da NFL e outros dedicados à tecnologia Hawkeye, além de oficiais que ajudam a coordenar a comunicação com as emissoras. São cerca de 40 pessoas envolvidas [no processo de revisão]” conta Butterworth.
Tecnologias utilizadas
Diferente do futebol, o VAR da NFL é chamado de Instant Replay – mas agora tem sido referenciado apenas pelo nome da principal tecnologia por trás das revisões: a Hawkeye.
Ela utiliza um conjunto de câmeras altamente avançadas da Sony para captar movimentos com alta precisão. Essa é a mesma ferramenta utilizada em esportes como tênis, futebol e basquete.
“O número de câmeras utilizadas varia de acordo com a emissora que está transmitindo a partida e a expectativa de audiência para aquele jogo. Nós utilizamos todas as câmeras que forem disponibilizadas pelo parceiro de transmissão, além de 12 câmeras fixas em cada estádio. Elas ficam posicionadas nas linhas [que marcam as jardas] e podem ser utilizadas tanto pelos árbitros quanto pela equipe de replay em Nova York” conta Butterworth.
Além de todas essas câmeras, o Vice-Presidente de Replay também explica que as bolas são equipadas com um chip que permite mapear sua rota com precisão; essa função é utilizada principalmente para rastrear o ponto exato em que a bola saiu do campo após um chute (o que determina o ponto de partida do próximo time a atacar). O chip fornece uma resposta precisa dentro de 56 segundos.
“Para este ano, estamos fazendo uma linha virtual para medir a distância da bola para a linha [de 10 jardas]. Para isso, temos mais seis câmeras que serão utilizadas para essas medições.
Antes, tínhamos assistentes que usavam bastões diretamente do campo para conferir essas informações; não faremos mais isso. Usando tecnologia, tiramos uma foto da bola ao atingir a primeira descida e, depois, na terceira ou quarta descida, vamos verificar se ela conseguiu alcançar as 10 jardas”.
Não parando por aí, Butterworth afirma que a NFL também está estudando formas de incorporar inteligência artificial como assistente em revisões de jogadas.
Essa missão está a cargo de um departamento chamado Future of Football, que é o responsável por implementar novas tecnologias na liga.
“O Future of Football está trabalhando lado a lado com os oficiais de arbitragem para encontrar formas de usar IA para coletar informações e auxiliar na tomada de decisões. Contudo, isso ainda está em fase de desenvolvimento, a alguns anos de distância.
Sempre teremos o elemento humano com sete árbitros em campo e a equipe de replay, mas a inteligência artificial pode ser útil em nossas análises. (…) Hoje, todo o processo de revisão leva em média 1 minuto e 20 segundos; nossa meta é reduzir esse tempo para menos de 30 segundos” explica Butterworth.
Além da adição das linhas virtuais, a NFL também está intensificando a assistência de replays para a temporada 2025-2026. A ideia é melhorar o ritmo das jogadas e reduzir os desafios técnicos ao fornecer informações óbvias mais rapidamente aos árbitros em campo.
Por último, Butterworth reforça que o método de aplicação dessas tecnologias não se limita ao território norte-americano, então os jogos internacionais seguem o mesmo processo – incluindo as partidas disputadas na Neo Química Arena, em São Paulo.
Por dentro da liga brasileira
O Canaltech também conversou com Danilo Muller, head coach do Cruzeiro Futebol Americano e ex-Diretor de Esportes da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA).
O técnico explicou que a liga brasileira de futebol americano ainda não dispõe de um sistema de revisão de jogadas, mas que já está evoluindo em termos de transmissões.
“No futebol americano brasileiro ainda não existe o desafio de replay de arbitragem, pois exige uma tecnologia maior. Para chegar nesse ponto, teremos que passar por um longo processo. A CBFA já vem exigindo filmagens melhores dos times. É uma exigência que toda partida seja filmada, mas ainda é algo super básico, voltado só para os envolvidos poderem assistir posteriormente” explica Muller.

Muller reforça que, mesmo dispondo de tecnologias melhores nos dias atuais, ainda seria necessário passar por um processo experimental e gradativo – assim como a NFL passou na década de 1990.
Hoje, as partidas com transmissões mais completas utilizam um sistema de captação do próprio time, então não é um investimento realizado em conjunto com a CBFA.
“Existem 130 times no Brasil jogando futebol americano. Se o sistema de revisão for implementado na primeira divisão, aí a turma da segunda divisão vai reclamar, então acaba sendo um processo mais complexo. (…)
O Cruzeiro sempre tem transmissão com quatro ou cinco câmeras; nosso rival aqui também usa muitas câmeras, então existem alguns times que tomam bastante cuidado com isso. O Campeonato Mineiro tem transmissão online pela Band Sports e também está rolando pela Rede Minas ao vivo, o que já exige câmeras melhores” conta Muller.
Para Danilo, a liga brasileira ainda está bem longe de alcançar um nível de popularidade equiparável ao da NFL, mas conforme o esporte se torna mais popular no país, o uso de tecnologias mais avançadas acaba se tornando um processo natural.
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Fonte: Canaltech - Leia mais