A NVIDIA quer remodelar o conceito de Data Centers com a criação de fábricas de IA: estruturas desenhadas para desenvolver e operar sistemas de inteligência artificial em larga escala. Hoje, cerca de 100 dessas instalações estão em construção em diversas regiões do mundo, sinalizando uma transformação profunda na infraestrutura digital.
Esses centros especializados serão voltados para treinamento e execução de modelos de IA, com a promessa de lidar com múltiplas aplicações e arquiteturas simultaneamente. Para isso, combinam CPUs, GPUs, redes e softwares avançados, com o ecossistema CUDA da própria NVIDIA no centro da estratégia.
Segundo Jensen Huang, CEO da empresa, trata-se de uma visão de longo prazo:
A infraestrutura de IA cobrirá o planeta, assim como a infraestrutura da internet. Estamos investindo centenas de bilhões de dólares em uma construção de infraestrutura de IA que levará cinco décadas
Parcerias e expansão global
A NVIDIA está mobilizando uma rede internacional de parcerias para concretizar esse plano. Nos Estados Unidos, anunciou um investimento de até US$ 500 bilhões para construir supercomputadores dedicados à IA, com novos centros planejados no Texas e no Arizona — projetos que contam com empresas como Foxconn e Wistron
No Oriente Médio, a empresa firmou um acordo com a Humain, da Arábia Saudita, para fornecer 18 mil GPUs Blackwell, ajudando a estruturar o ecossistema de IA local. Também participa do projeto Stargate UAE, em Abu Dhabi, que pretende erguer um dos maiores centros de IA do planeta.
Além disso, a NVIDIA mantém acordos com TSMC, Gigabyte, Asrock, Rack, Asus, Pegatron, Supermicro e Winstron, entre outras, para acelerar a implementação de infraestrutura de IA tanto em nuvem quanto em ambientes on-premises.

Inovação e eficiência no centro do projeto
As fábricas de IA estão sendo equipadas com sistemas de última geração como os GB200 e GB300, que integram GPUs e CPUs em plataformas de alto desempenho.
A empresa também investe pesado em soluções de eficiência energética, planejando substituir sistemas de resfriamento evaporativo por circuitos fechados, que consomem menos energia e permitem operar com maior densidade computacional.
A próxima geração de arquiteturas da empresa, batizada de Rubin, pretendem dobrar a performance dos sistemas atuais e reforçar a posição da NVIDIA no mercado de hardware para IA.

Performance como modelo de negócio: a nova lógica das fábricas de IA
A antiga base da NVIDIA, o mercado gamer, já não ocupa mais o centro das atenções, embora tenha sustentado a empresa por mais de três décadas. Nesse segmento, a lógica era clara: o hardware precisava justificar seu desempenho com ganhos visuais perceptíveis, como novos efeitos de iluminação ou maior resolução. Agora, com as fábricas de IA, o jogo mudou.
“Em uma fábrica, performance é custo, e performance é receita,” resumiu Jensen Huang durante sua apresentação na Computex. A cada nova geração de hardware, a eficiência energética e a capacidade de processamento aumentam, permitindo que Data Centers gerem mais resultados com menor consumo de energia.
O raciocínio de Huang é simples: se a performance por Watt é quatro vezes maior, o operador da fábrica de IA pode quadruplicar a receita ou reduzir drasticamente os custos. Essa é a essência do novo ciclo de vendas que a NVIDIA pretende alimentar: um fluxo contínuo de atualizações de hardware e software, com cada geração prometendo ganhos concretos para os negócios dos clientes.

A empresa aposta também no efeito de longo prazo do seu ecossistema de software, com a plataforma CUDA servindo como diferencial competitivo. O argumento é que mesmo GPUs antigas continuam a melhorar com atualizações de software, oferecendo aos clientes uma evolução sustentada no tempo, além do incentivo para migrar para as gerações mais recentes.
Se apresentarmos uma nova geração, a receita dos clientes pode crescer, e os custos podem cair. Nesse modelo, os clientes passam a depender da cadência tecnológica da NVIDIA, muito semelhante ao que ocorreu no passado com a mineração de criptomoedas, um mercado que impulsionou fortemente as vendas de GPUs em ciclos anteriores.
Mas essa corrida pela performance tem um preço. O consumo de energia e os sistemas de resfriamento se tornam gargalos importantes. Por isso, a NVIDIA já está promovendo a transição para sistemas de refrigeração em circuito fechado, que prometem eficiência energética superior e maior viabilidade econômica para operações em larga escala.
Por trás da visão das fábricas de IA, está um modelo de monetização recorrente: quanto mais poderosa for a nova geração de GPUs, maior será a pressão competitiva para que empresas de IA atualizem suas infraestruturas — consolidando a dependência da NVIDIA como fornecedora desse ecossistema.
O novo ciclo de monetização
Como falamos acima, o modelo de negócio das fábricas de IA lembra (em parte) a lógica da mineração de criptomoedas, só que aplicada ao mercado corporativo. A ideia é que empresas possam transformar capacidade computacional bruta em receita, usando as GPUs e sistemas da NVIDIA para treinar e operar modelos de IA com maior eficiência.
Como explicou Jensen Huang durante a Computex:
Em uma fábrica, performance significa custo, e performance significa receita. Se conseguimos oferecer quatro vezes mais desempenho por watt, os clientes podem aumentar as receitas e reduzir os custos de seus Data Centers
Além do hardware, a empresa aposta na longevidade da sua plataforma de software. Com a evolução constante do ecossistema CUDA, a NVIDIA busca assegurar que seus sistemas permaneçam relevantes por anos, oferecendo não só mais potência, mas também otimizações que prolongam a vida útil dos investimentos dos clientes.
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O futuro da IA ainda é incerto, mas a NVIDIA aposta alto
Embora o projeto das fábricas de IA da NVIDIA seja grandioso, ele não está livre de riscos. O setor ainda enfrenta desafios como altos custos operacionais, consumo energético elevado e a necessidade de constante atualização tecnológica. Além disso, a competição internacional cresce rapidamente, com empresas chinesas oferecendo soluções a custos inferiores.
Ainda assim, a empresa do executivo de lindas jaquetas de couro parece disposta a liderar essa corrida. Ao transformar seus parceiros em clientes de um ecossistema completo — que vai do silício às ferramentas de software —, a empresa aposta que suas fábricas de IA serão um novo motor de receita para as próximas décadas.
Se o futuro da IA vai mesmo justificar tamanha aposta, ainda é uma incógnita. Mas a NVIDIA já colocou suas fichas na mesa, e quer liderar esse jogo até onde der.
Fonte: Tom’s Hardware
Fonte: Adrenaline - Leia mais