Nos últimos anos, cresceu de forma exponencial o número de transações feitas via carteiras digitais, sobretudo no Brasil. Segundo levantamento da consultoria PYMNTS, em parceria com o Google, 84% dos entrevistados afirmaram ter utilizado a modalidade no último ano. Ainda de acordo com o estudo, a aderência ao uso de carteiras digitais no Brasil é superior à média internacional (de 74%), sendo que 47% dos brasileiros a utilizaram para pagar contas e 27% para fazer compras online. É inegável que o sucesso das carteiras digitais se deve à praticidade e agilidade que elas ocasionam no dia a dia de milhares de consumidores, proporcionando uma experiência de compra mais fluida e eficaz.
Diante desse mercado em expansão, o Banco Central do Brasil abriu a consulta pública número 118/2025 a fim de levantar uma bandeira importante: o risco de concentração e a pressão tarifária provocada por carteiras digitais, como Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay. O intuito é evitar que a hegemonia existente atualmente, sobretudo em relação aos grandes players mencionados acima, pressione financeiramente emissores de cartões e, como consequência, aumente os custos repassados a consumidores e comerciantes.
Esse é um tema super relevante porque impacta diretamente as empresas e usuários. Acredito que o Banco Central tem o papel fundamental de garantir a segurança em todos os meios de pagamentos utilizados no país, zelando pela segurança dos dados dos usuários, e a regulação poderia ser um facilitador desse ecossistema. Atualmente, já existem padrões de segurança vigentes no mercado, inclusive com as próprias bandeiras e emissores, então não acredito que a regulação se sobreponha ao que já está em curso, mas sim que ela vem para somar e agregar ainda mais segurança nos processos.
O Banco Central tem proposto uma agenda de inovação muito consistente nos últimos anos, sobretudo com o lançamento de iniciativas bem-sucedidas, como o Pix e o Open Finance, além do Drex, que deve ser implementado neste ano. Junto a essas inovações se destacam políticas robustas de segurança e um aperfeiçoamento contínuo para evitar fraudes e garantir a privacidade de dados dos usuários. Nesse sentido, vejo a regulação como mais um ponto para incrementar ainda mais a segurança do ecossistema financeiro como um todo, permitindo que todos os canais transacionais passem por um processo padronizado. Vale ressaltar que o intuito da regulação não é o de determinar tarifas a serem cobradas por uso de carteiras digitais e sim regulamentar como as taxas atuais devem ser utilizadas.
Caso a regulamentação seja, de fato, aprovada, acredito que os consumidores serão os principais beneficiados, uma vez que ela irá garantir que os dados armazenados nos tokens e carteiras digitais estejam em conformidade com os padrões de segurança. Já para as empresas, principalmente os lojistas, haverá uma potencial redução nos custos de adquirência, uma vez que o mercado de carteira digitais será aberto a novos players, o que permitirá reduzir os custos transacionais.
A consulta está aberta para contribuições até o dia 2 de junho e até lá muito será debatido sobre seus potenciais impactos. Independentemente da decisão final do Bacen, acredito que essa é mais uma iniciativa importante a fim de tornar os processos mais seguros e fomentar a competitividade e a inovação na indústria financeira.
Danilo Porto, sócio da QI Tech.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais