A inteligência artificial deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma infraestrutura invisível do trabalho moderno. Nos últimos 24 meses, a IA generativa, em especial, deixou o laboratório e se espalhou pelas empresas como uma camada intermediária entre humanos e tarefas. Essa mudança não é mais especulação. É um dado que eu particularmente observo em meu dia a dia, em diferentes indústrias, setores e segmentos — e está começando a reconfigurar o mercado de trabalho de forma estrutural.
Um indicador recente ajuda a ilustrar a procura por profissionais de IA: o relatório da Microsoft e LinkedIn constatou que a procura por profissionais com habilidades em IA resultou em um aumento de 323% nas contrações em 2024. Já o estudo da PwC, “Barômetro de Empregos de Inteligência Artificial 2024”, mostrou que 72% dos CEOs brasileiros afirmam que a IA irá impactar a forma como as empresas criam, entregam e capturam valor nos próximos anos.
Estamos vivendo uma mudança de paradigma silenciosa. Até pouco tempo, escalar um time ou projeto era sinônimo de aumentar o número de pessoas envolvidas. Agora, escalar pode significar algo diferente: aumentar a quantidade de agentes inteligentes operando em sinergia com humanos. A nova força de trabalho é híbrida — e essa transição está acontecendo de forma mais rápida do que muitos imaginavam.
Essa nova fase exige um novo tipo de profissional. Não necessariamente alguém com formação técnica, mas alguém que sabe trabalhar com IA como parte integral do seu processo. Esse perfil já tem nome: o profissional AI-driven.
Trata-se de alguém que entende as capacidades (e os limites) dos modelos atuais, sabe estruturar problemas para que agentes possam resolvê-los de forma eficiente, e é capaz de orquestrar workflows automatizados com o mínimo de atrito. Em outras palavras, é alguém que não “programa”, mas projeta interações inteligentes entre humanos e máquinas. Esse novo perfil de profissional não se destaca por conhecer IA em teoria, mas por conseguir aplicar IA em tarefas reais, com ganhos mensuráveis de tempo, qualidade e escala.
E o ponto mais crítico: esse profissional já está presente nas empresas. Está criando agentes no-code para processos internos, usando modelos especializados para interpretar documentos jurídicos, otimizando a análise de dados financeiros, melhorando o atendimento ao cliente, automatizando tarefas administrativas, codificando com assistentes de codificação, estruturando fluxos de decisão com base em prompts. Não estamos mais discutindo o “profissional do futuro”. Estamos descrevendo o profissional médio de 2025 — aquele que permanece competitivo, relevante e inserido nas dinâmicas de mercado mais avançadas.
Para se ter ideia, 59% dos programadores utilizam ferramentas de IA nos seus fluxos de trabalho de desenvolvimento, segundo a pesquisa SlashData 2024. A previsão do uso dos agentes também é otimista, pelo menos 15% das tomadas de decisões serão feitas por agentes de IA até 2028, segundo a Gartner.
A implicação disso é clara. Profissionais que ainda resistem à adoção da IA como ferramenta cotidiana correm o risco não de serem substituídos diretamente por máquinas, mas por colegas que sabem usá-las melhor. O ganho marginal de produtividade promovido por essas tecnologias já é suficiente para reordenar times, justificar novas estruturas operacionais e redefinir prioridades de contratação.
Há também uma segunda consequência dessa transformação: o nascimento do gestor de agentes. À medida que as equipes passam a incluir agentes de IA como parte ativa das operações, será necessário desenvolver novas competências de liderança. Saber distribuir responsabilidades entre humanos e máquinas, monitorar a performance de fluxos automatizados, entender o que escalar e o que reconfigurar. Esse será um papel cada vez mais central na estrutura organizacional.
Estamos vivendo o que se pode chamar de um novo ciclo da profissionalização. Um momento em que não basta mais ter conhecimento técnico ou domínio de processos. É necessário ser fluente em IA — não apenas como usuário, mas como estrategista.
Em vez de resistir a essa realidade, o mercado está se adaptando. E profissionais também precisarão se adaptar. Isso não significa aprender a programar. Significa aprender a conversar com máquinas, estruturar soluções e tomar decisões com apoio da inteligência artificial.
O profissional AI-driven é, mais do que uma tendência, uma exigência do mercado atual. E talvez o mais relevante: ele já está sendo contratado.
Marcos Bonas, Vice-Presidente de Engenharia, Arquitetura, Marketing e Vendas para o Brasil e Estados Unidos na Zup.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais