Efeito bolha é o termo usado para descrever a exposição das pessoas a conteúdos que confirmam e reforçam as suas opiniões. As bolhas sociais sempre existiram, mas isso foi impulsionado a outro nível com os algoritmos de recomendações das redes sociais.
- Por que é tão difícil mensurar o impacto das redes sociais nos jovens?
- Pesquisadores sugerem 25 soluções para redes sociais não destruírem a humanidade
As pessoas não entram nessas bolhas de forma consciente, elas são direcionadas pelo algoritmo e se sentem acolhidas naquele meio, mas a longo prazo, isso tende a afastá-las de interações sociais saudáveis e da tolerância a opiniões diferentes.
Como funciona o efeito bolha nas redes sociais
As bolhas digitais são grupos de pessoas que se juntam para compartilhar informações e discutir assuntos de mesmo interesse.
–
Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
–
Elas sempre existiram, mas são potencializadas pelo algoritmo de recomendação das redes sociais que, inicialmente, tinha o objetivo de facilitar a navegação do usuário ao sugerir conteúdos relacionados aos seus interesses e interações anteriores.
Com o tempo, os algoritmos melhoraram a sua capacidade de recomendação para aumentar o tempo de tela e a exposição de anúncios com foco no lucro das redes sociais. “Nossa atenção virou uma moeda de troca”, comentou a psicóloga clínica e pesquisadora em ciberpsicologia Juliana Taha.
Para a escritora e pesquisadora em Comunicação Digital Pollyana Ferrari, a discussão da bolha tem relação com a solidão causada pelas telas. “O uso excessivo de telas gera solidão”, reforça.
Quais são os impactos das bolhas digitais?
As bolhas digitais reforçam crenças existentes e reduz o contato das pessoas com informações diferentes. Elas criam uma falsa aparência de consenso popular. Uma consequência disso é a polarização, pois qualquer opinião divergente ativará o mecanismo de defesa natural do ser humano.
Além disso, Juliana Taha explica que temos um viés interno de prestar mais atenção em conteúdos negativo e emocional-afetivo e, como o algoritmo aprende com as interações dos usuários, ele tende a recomendar publicações que ativem esse viés de negatividade, pois geram mais engajamento e tempo de tela.
Isso cria “canais férteis para a proliferação de todo tipo de informação, incluindo mentiras e boatos, pois diminuiu-se o senso crítico e a tolerância ao conteúdo diverso”, pontua o especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação Marcelo Guedes.

Esses boatos e mentiras, normalmente, são sobre um grupo que discorda das crenças da bolha. Cria-se uma noção de “nós contra o outro” e isso pode culminar em aumento dos discursos de ódio, preconceitos e, até mesmo, rompimento do estado democrático em casos mais graves.
Para Marcelo Guedes, “estamos perdendo empatia e a percepção do outro, afinal só percebemos o outro em situações de conflito, no qual o outro é um pária e não merece a atenção da sociedade e do Estado”.
Como a IA contribui para o aumento do efeito bolha
A pesquisadora Pollyana Ferrari aponta um crescimento das bolhas digitais devido ao uso de agentes inteligentes de IA, como o ChatGPT. Para ela, “o grupo [as bolhas digitais] continua lá como um alicerce”, mas há um “aumento de agente inteligente no lugar dos mediadores”.
Ou seja, os mediadores dos grupos usam a IA para gerar conteúdo em massa e aumentar o engajamento dos integrantes da bolha. “Tem mais marcas e agentes inteligentes oferecendo coisas no Instagram do que o nosso feed de amigos”, pontua.
Os agentes inteligentes foram alimentados por uma década com os dados dos algoritmos, sendo “criados a partir das pegadas dessas bolhas” e, agora, as redes sociais estão “trocando interações humanas por agentes, porque o agente não fica doente e não vai sair da bolha”, de acordo com Ferrari.
Essa ideia vem do mesmo modelo algorítmico de reforçar as crenças e ideias do indivíduo, só que de uma maneira muito mais pessoal. Para a psicóloga Juliana Taha, um futuro próximo pode levar ao pensamento de “eu não vou ser entendida por mais ninguém, porque meu celular me entende melhor”, levando ao isolamento.
Como furar as suas bolhas digitais
Para Juliana Taha, não adianta tentar controlar o algoritmo, porque isso é impossível, mas existem meios de reduzir os efeitos psicológicos causados pelas bolhas, como fazer atividades físicas, ter uma vida mais desconectada das redes e, principalmente, se conectar a outras pessoas presencialmente.
“Um dos aspectos mais importantes do nosso bem-estar humano é se sentir conectado com os outros, e conectado não é concordar sempre e ter o mesmo ponto de vista, mas ter a capacidade de dialogar, de conversar, de colocar pontos de vistas diferentes”, comenta Taha.
Já Pollyana Ferrari propõe uma reflexão: “Faça uma lista de quantas bolhas você tem. Sincero, para você mesmo. Dá para sair? Por que eu me enfiei só nisso? Não deixe o algoritmo do Spotify, por exemplo, dominar a sua escuta de música. Rompa o algoritmo. Escute outra coisa”.
Leia mais:
- Brain rot: por que consumir vários vídeos curtos deteriora a saúde mental?
- Detox digital: 6 dicas para reduzir o uso de redes sociais em 2025
- Sharenting: o que é e por que você deveria se preocupar
VÍDEO: O algoritmo do seu YouTube, Instagram e Threads está ruim nas recomendações?
Leia a matéria no Canaltech.
Fonte: Canaltech - Leia mais