Com o coração de um fã veterano não se brinca, ainda mais se for daqueles nerdolas virjões que reclamam de qualquer mudança. Se for algo bombástico que ignora praticamente 60 de histórias, aí, vixe, essa galera vai à loucura com pitís, surtinhos, faniquitos e até… ameaças de morte contra o autor — é sério, isso aconteceu há dez anos com um editor da Marvel Comics.
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Bom, vamos ao contexto para entender melhor essa reação extrema a uma escolha interessante, porém um pouco mal executada pela Casa das Ideias, ainda mais devido ao timing do lançamento. Em 2016, o mundo vivia uma polarização de extremos, tanto da esquerda quanto da direita — e sabe como é, em uma ferradura, as extremidades são iguais.
O Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) voava nos cinemas rumo ao ápice da Saga do Infinito. E o Capitão América voltava a ser muito popular, com a caracterização de Chris Evans levando para as telonas o questionamento ao governo dos Estados Unidos e a manutenção da inegociável liberdade — pela primeira vez, vimos um Sentinela da Liberdade parecido com os melhores dos arcos de Mark Waid e Ron Garner, que diluíram bastante aquele ranço patriótico que ainda incomodava muita gente.
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E foi justamente nesse momento, com essa figura importante representando os Estados Unidos do “Sonho Americano” de maneira que todo mundo gostava, que Tom Brevoort, editor da Marvel, radicalizar total com uma revelação chocante: o Steve Rogers que nós aprendemos a gostar e ter como referência de heroísmo, bravura e resiliência durante mais de 60 anos, teria virado a casaca faz tempo como agente da Hydra.

Ou seja, era basicamente chamar o Capitão América de nazista em uma época de adoração ao personagem e em pleno momento de atritos mais rípidos e violentos da polaridade política que se instalou no mundo todo. E pior: a explicação para isso e para a criação de um clone de Steve Rogers bonzinho e sem memória dentro de uma criança que virou um avatar do Cubo Cósmico — um bagulho que ninguém nunca explicou direito até hoje e que até sumiu no MCU.
Tom Brevoort admite que vacilou
Brevoort sugere que deixar o Steve Rogers se tornar um traidor da Hydra foi um erro. Nove anos atrás, em 27 de maio de 2016, os leitores ficaram chocados ao ver o Capitão América proferir a frase “Salve a Hydra“.
A trama revelou que se tratava de um clone maligno de Steve Rogers, manifestado a partir do Cubo Cósmico que distorcia a realidade; mas antes da revelação, o momento colocou a Marvel no centro da controvérsia.
Em sua última publicação no Substack, Tom Brevoort confessa que a Marvel subestimou a reação negativa que emanaria da reviravolta do Capitão América. O momento ocorreu originalmente em Captain America: Steve Rogers #1, novo título solo do Sentinela da Liberdade escrito por Nick Spencer e desenhado pelo artista Jesús Saíz, do qual Brevoort foi editor com Alanna Smith. No aniversário de seu lançamento, Brevoort disse o seguinte:
“Aí vem a confusão! Captain America: Steve Rogers foi lançado em 25 de maio de 2016, marcando a primeira vez que Rogers assumiu a identidade da Lenda Viva da Segunda Guerra Mundial em alguns anos. Mas é claro, tudo o que todos se lembram desta primeira edição são suas páginas finais, nas quais o rejuvenescido Rogers observa que algo está muito errado com ele, ao revelar que é um agente a serviço da Hydra.”
“Se estávamos muito preocupados em trazer Bucky de volta, talvez estivéssemos pouco preocupados com o impacto que este momento teria quando acontecesse. Sabíamos que causaria polêmica, esse era basicamente o ponto principal.”

Os fãs endoidaram, e não apenas os nerdolas, o momento do mundo era tão inflamável que qualquer coisa era motivo de guerra cultura, ainda mais um evento tão explosivo como esse. Mesmo com momentos divertidos, a trama completamente previsível e a mudança no uniforme no escudo tiraram a galera do sério.
Tinha criança chorando, velho quebrando a bacia, moleque dando voadora em senhora e muitos miolos de pão dentro da cabeça apontando a mudança de Rogers como evidência de algum tipo de decadência moral que havia infectado toda a indústria.
“A situação era séria o suficiente para que eu recebesse ameaças de morte por permitir que isso acontecesse — tive que cancelar uma aparição na Baltimore Comic Con daquele ano devido a uma ameaça vinda da região de Baltimore, que a polícia que consultamos considerou legítima e não apenas um falastrão qualquer. Que divertido!”, comenta com ironia Brevoort.
“A pessoa mais atingida provavelmente foi o escritor Nick Spencer, e a maioria dos que ficaram bravos não queria ouvir que esse era o primeiro passo de uma história cuidadosamente construída que se desenrolaria ao longo dos próximos 18 meses, mais ou menos. Era uma história grande e ousada — talvez grande demais em certos momentos — e da qual Nick quase perdeu o controle em algum momento.”
Ainda bem que os faniquitos e beicinhos diminuíram. “Mas, no final das contas, conseguimos manter tudo sob controle por tempo suficiente para pousar o avião de uma forma bastante satisfatória no crossover Império Secreto que veio no ano seguinte. Um pouco perdido na multidão, mas provavelmente grato por isso neste caso, estava o artista Jesus Saiz, que entregou uma arte realmente ótima para esta e outras edições.”
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