Na era digital em que já vivemos, o paradigma de segurança baseado em “algo que você possui” (como um crachá) ou “algo que você sabe” (como uma senha) já não atende às necessidades de proteção que empresas e instituições exigem. A facilidade com que crachás podem ser perdidos, roubados ou emprestados, e senhas podem ser compartilhadas ou descobertas, expõe vulnerabilidades críticas nos sistemas de segurança convencionais.
Um crachá pode facilmente passar de mão em mão, comprometendo perímetros supostamente seguros. Senhas complexas, por sua vez, são frequentemente anotadas em locais acessíveis ou simplificadas pelos usuários para facilitar a memorização. A realidade é que os sistemas tradicionais dependem excessivamente do fator humano, seja na operação de monitoramento constante por equipes em centros de comando, ou na responsabilidade individual de proteger credenciais de acesso.
A visão computacional emerge como resposta superior, utilizando a imagem como parâmetro de consulta e permitindo interpretação contextual em tempo real. Em vez de validar “o que você possui” ou “o que você sabe”, esta tecnologia valida “quem você é”, através de características biométricas únicas e difíceis de falsificar. Com a evolução dos algoritmos hoje é possível combinar diversas aplicações simultâneas trazendo maior segurança.
Visão computacional com processamento em borda
Um dos maiores avanços é o processamento em borda (edge computing), que representa um salto significativo em relação a soluções baseadas em nuvem. Esta arquitetura permite a análise avançada de vídeo no próprio dispositivo, sem necessidade de enviar dados para processamento remoto.
Os benefícios incluem:
Independência de conexão à internet robusta, reduzindo custos de infraestrutura.
Eliminação da latência, permitindo respostas em tempo real.
Fortalecimento da segurança da informação e privacidade, já que dados sensíveis não trafegam pela rede.
Na prática, um sistema em borda pode reconhecer uma pessoa autorizada instantaneamente, sem depender de validação em servidores remotos. Em caso de ameaças, o sistema pode acionar imediatamente travas ou alarmes, mesmo sem conexão com a internet.
Aplicações
A versatilidade da visão computacional vai além da substituição de crachás. Um único sistema pode gerenciar segurança patrimonial (acesso a áreas restritas e leitura de placas, por exemplo), segurança civil (identificação de aglomerações, entrada de capacete em recinto comercial e segurança operacional (verificação de EPIs, detecção de incêndio, etc).
Um diferencial significativo é a capacidade de reutilizar a infraestrutura existente. Sistemas modernos podem aproveitar câmeras convencionais já instaladas, agregando inteligência através de dispositivos dedicados ao processamento inteligente de vídeo.
Considerações éticas
As questões éticas e de privacidade devem ser cuidadosamente consideradas. A visão computacional em borda oferece vantagens intrínsecas neste aspecto, permitindo o processamento local sem armazenamento contínuo de vídeo.
É possível configurar o sistema para registrar apenas eventos relevantes, em vez de trafegar dados e imagens em nuvem. A tecnologia atual permite parametrizar exatamente quais informações serão enviadas para análise posterior – pode ser apenas uma notificação textual, sem qualquer imagem pessoal.
No contexto da LGPD, esta abordagem favorece a conformidade, minimizando o armazenamento de dados sensíveis. Em ambientes de segurança onde o objetivo é a proteção de pessoas e bens, a proporcionalidade do uso da tecnologia é facilmente justificável.
Franz Bories, Gerente de Novos Negócios com foco em Inteligência Artificial na Elsys.
Fonte: TI INSIDE Online - Leia mais